sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
Mundano
Escrito por
Rodrigo Domit
O golpe ditatorial teve, no exército, seu braço armado
E na imprensa, o desalmado
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Doutor Edgar, Psicólogo
Escrito por
André Bortolon
O homem
olhou fixamente para o cartão de visitas que havia recebido. Nele, a inscrição:
Edgar
Christian
Doutor em Psicologia e Mestre em Meditação
Transcendental
Já fazia
tempos que ele queria fazer aquela ligação. Agora era o momento. Procrastinar
não adiantava mais, especialmente àquela altura do campeonato. O homem passou a
mão no celular e ligou. Uma voz feminina atendeu. Tratava-se da secretária do
doutor. Muito solícita, a jovem (pelo tom de sua voz) marcou um horário para
uma conversa com o doutor. Ao final da ligação, contudo, ela salientou: “Se
você recebeu o cartão do doutor, é porque foi por indicação. Portanto, saiba
desde agora que só divulgamos esse trabalho para quem realmente precisa do
doutor. As demandas pelos serviços dele são enormes, e o doutor não pode
atender a todos. Então, peço-lhe por gentileza que não comente com ninguém a nosso respeito...”
O homem já
sabia aquele papo todo. O doutor vivia corrido. Era “concorrido”. Ele só
atendia figurões, gente graúda. Não tinha tempo para qualquer um, para povão.
Só podia ser. O homem sabia disso, e ficou feliz que, depois de tudo o que
tinha passado, feito e vivido nos últimos anos, finalmente teria a oportunidade
de tirar de dentro o que lhe incomodava. “Antes tarde do que nunca” pensou,
feliz por ter um horário para si já na tarde seguinte.
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O lugar
parecia mais com um prédio abandonado. Uma porta com um pequeno interfone, e pronto,
lá dentro estava o homem. “Ao menos, o interior é bem confortável” pensou o
homem, sentando-se num sofá de couro, enquanto a secretária – uma menina nova,
de fato – o pedia para aguardar um instante. Em seguida, ela perguntou:
- O senhor
trouxe o pagamento em espécie?
- Sim. Está
aqui. Só preciso de uma nota fiscal, pois sairá como pagamento da empresa.
- Tudo bem.
Ao final da consulta estarei lhe entregando a nota, que será para o tratamento
todo já.
- Ok, de
acordo. – disse o homem, tirando de dentro do paletó uma carteira forrada de
notas de cem.
Com a
rapidez e a precisão de quem conhece dinheiro, a jovem secretária contou os
cinco mil reais, e agradeceu ao homem. Em seguida levantou-se, e disse:
- Vamos? O
doutor já pode atende-lo agora.
Entrando na
sala, o doutor recebeu-o com um sorriso amigável em seu rosto. Sem um divã para
se deitar, havia na sala do doutor apenas uma confortável poltrona de couro
preto, que ficava virada de costas para a porta, bem de frente para a do
doutor. Atrás do psicólogo, uma estante forrada de livros, que ia de fora a
fora. O homem teve a impressão que já conhecia o doutor Edgar de algum lugar,
mas não sabia ao certo de onde.
- Sou um
tipo físico comum. Muita gente acha que me conhece, seu Firmino... prefere que
o chame assim ou por seu primeiro nome?
- Pode ser
Oscar mesmo doutor...
- Edgar, me
chame só de Edgar. Aqui somos amigos. Nada do que acontece dentro desta sala sai
daqui, jamais. Sabe que a minha reputação é algo que estimo muito. E se está
aqui, Oscar, você pode me contar absolutamente tudo nos mínimos detalhes, que
lhe prometo desde já: sua vida irá mudar drasticamente a partir do fim desta
sessão. Você não está aqui por acaso. Ninguém vem aqui por acaso...
- Eu sei
Edgar, eu sei. Só espero mesmo que adiante de verdade para mim...
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E a
consulta transcorreu muito bem, superando as expectativas de um antes cético
Oscar Firmino. Sim, o famoso empresário Oscar Firmino, dono de uma fortuna
outrora estimada em 100 milhões de reais, mas que vinha passando por uma série
de problemas recentes, a maioria deles, para não dizer todos, por culpa única e
inteiramente sua. Após um desabafo profundo e sincero, como Oscar nunca havia
feito em toda a sua vida para ninguém, é que o doutor lhe deu as considerações
finais:
- Muito bem
Oscar, você está de parabéns por hoje. Já tenho tudo o que preciso de você para
a mudança, que começará a surtir efeito nos próximos instantes. Antes de lhe
dar as instruções de como o senhor procederá para a sua mudança de vida, uma
pergunta: estava bom o chá servido por Ágata?
- Hum, sim,
delicioso... até por sinal, me parece que agorinha mesmo eu fiquei um pouco
tonto...
- É? Nesse
exato momento?
- Sim,
parece uma sensação de leveza, não normal... mas fale-me doutor, digo Edgar, o
que devo fazer a partir dessa semana?
- Sim, só
um momentinho... – o doutor voltou-se ao seu laptop e falou: - Ágata? Sim,
paciente já concluído aqui...
Voltando
sua atenção para Oscar, olhando bem fundo em seus olhos – que já pareciam mais
cansados, ligeiramente vermelhos – é que o doutor Edgar disse:
- Pois
então, Oscar Firmino, você tem plena consciência que roubou dinheiro grosso de
seus ex-sócios... correto?
- Sim Edgar,
mas como lhe falei, foi porquê...
- Não,
Oscar. Agora você não precisa justificar mais nada. Apenas concorde comigo, se
o que eu lhe falar realmente aconteceu, independente de motivo. Tudo bem?
Apenas diga “sim” a cada pergunta, para seguirmos com o tratamento, OK?
- Sim, pode
ser – dizia Oscar, deixando o nó da gravata mais frouxo, evidenciando o
mal-estar repentino.
- Então
vamos lá, novamente: você tem plena consciência que roubou dinheiro grosso de
seus ex-sócios, Oscar?
- Sim.
- Você
negou e/ou abandonou dois filhos legítimos seus fora do matrimônio?
- Ah...
sim.
- Você
subornou pessoas públicas para conseguir benefícios fiscais ou vantagens sobre
outras pessoas?
- Sim,
várias vezes...
- Você
pegou parte bem maior do que a reservada para você da herança de seu falecido
pai, através de esquema ilícito com advogados, para ficar com mais dinheiro que
seus irmãos e irmãs?
- Sim...
- Você
deveu e até hoje deve dinheiro para fornecedores, alguns dos quais inclusive que
tiveram de fechar suas portas, devido principalmente ao rombo financeiro
causado pelo senhor?
- Sim, sim!
Nessa hora
o suor na testa de Oscar já era visível a olho nu. Que perguntou:
- O ar
condicionado tá desligado? Não tô legal...
Gentilmente
abrindo a porta do consultório, Ágata entrou delicadamente no recinto, sem que
Oscar a percebesse. O doutor prosseguiu:
- Pois
então seu Oscar Firmino, a sua tontura e o seu mal-estar não são em vão...
- Como
assim?
- O chá que
o senhor acabou há pouco de tomar, continha uma quantidade de veneno capaz de
matar um ser vivo de até 150 quilos em menos de uma hora... o senhor, como deve
pesar uns... noventa, estou certo?
- O quê?!?
O que você disse, seu maldito, O QUÊ?!?
Fazendo
menção que iria levantar-se atabalhoadamente de sua poltrona, o doutor Edgar,
apenas com um olhar assertivo para Ágata, deu o sinal. Com uma agilidade de
quem sabe o que faz, antes que Oscar Firmino levantasse da poltrona, Ágata
segurou-o firme pela testa com sua mão esquerda, enquanto com a mão direita
firme atravessou uma reluzente navalha pela garganta de Oscar Firmino.
Um esguicho
de sangue atravessou a pequena mesa de centro que separava doutor de paciente, deixando a cara do
doutor Edgar toda vermelha com o sangue quente recém-saído da jugular de Oscar
– que convulsionou por poucos segundos, até morrer ainda sendo seguro por Ágata.
Pacientemente,
o doutor Edgar tirou um lenço de seu bolso, e começou a limpar o sangue de
Oscar do rosto, que era sentido já em seus lábios.
- Ótimo
trabalho, Ágata. Você é ótima no que faz. Estou orgulhoso de você!
- Ah
doutor, estava com muita vontade de passar essa navalha na garganta de
alguém... saudade disso, sabe? Mas... a única coisa é o sangue, sempre dá um
trabalho extra pra gente, né... isso não é tão prático, não é doutor?
O doutor
levantou-se para auxiliar a “sua Ágata”, que era muito mais do que uma
secretária para ele; Ágata era a razão de tudo para Edgar. Que falou:
- Pode
soltá-lo, Ágata. Só forra o chão ali que eu mesmo boto o corpo desse Firmino
ali em cima. Você já fez demais por hoje, deixa aqui comigo – e nesse momento,
enquanto segurava a cabeça do homem para que seu corpo não caísse no chão, é
que o doutor beijou Ágata na boca, sentindo um prazer difícil de pôr em
palavras.
Quando suas
bocas se desencostaram, Ágata, agindo como uma gata de estimação, lambeu do
rosto do doutor os últimos vestígios de sangue do empresário.
- Ah, assim
você me acaba... vamos terminar nosso trabalho primeiro Ágata, depois a gente
pode fazer amor aqui, com o cadáver nos olhando...
- Hum...perfeito!! – respondeu Ágata empolgada, ansiosa para cair nos braços de seu amado.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
domingo, 12 de fevereiro de 2017
Liberdade Cativa
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
Na esperança da liberdade da entrega
Mas preso nos temores deformados pelo tempo
Questionando as certezas da espera
Certamente duvidosas geram medo
Clareando o breu da alma
Faltando o que antes era sobra
Sobrando o que agora mata
Auspicioso continuo na entrega
Entregando o que mais me afeta
Afetivamente preso na liberdade que auferi
Displicente ao que se passa ao redor
Mas consciente ao que se passa em mim
Hoje liberto nos desígnios que hoje pelejo
Mas cativo nos anseios presos a mim
Criados pela certeza que hoje vejo
Mas ainda esperançoso na liberdade que sinto em ti
Tendo certeza do que hoje almejo
Tão certo do que apeteço
Tão clara como a luz que cega
É a dúvida que tudo isso acarreta
Nada mais intenso me inspira
Do que a liberdade cativa
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