domingo, 24 de dezembro de 2017
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
terça-feira, 24 de outubro de 2017
sábado, 21 de outubro de 2017
domingo, 24 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Agora
Escrito por
Angela Gomes
"(...) O tempo passado e o tempo futuro / O que podia ter sido e o que foi / Tendem para um fim, que é sempre presente." T.S. Eliot
Como um vulto na janela
Como passam os pássaros
Como um precipício
Se revela
Os passos permanecem
Desafiadores em astro
Que transita espaço
Em trilha fixa esférica
Como tudo deixa rastro
Segue sem lastro
Passageiro
Persegue caminhos
Aventureiro
Se alinha
Fia e tece
Tecido de linho
Se despe
Forja nicho
Desfaz ninho
Recompõem ritmo
Abissal
Contínuo cristal de sal
Precipitado no mar
Lançado para a encosta
Vidrado no olhar
Desidratado com o sol
Partir fremente
Colossal
Rito de passagem
(Angela Gomes)
(27/09/2017)
terça-feira, 19 de setembro de 2017
O Poder da Palavra
Escrito por
André Bortolon
Esse é um pequeno texto dedicado a você, leitor
ou leitora.
Houve uma época em que só havia a palavra
escrita. Isso foi antes do rádio, do cinema ou da TV e muito, muito antes da
internet. Quando a palavra detinha um poder avassalador sobre as pessoas. A
palavra escrita era, primeiramente, possível de ser alcançada apenas a um
restrito número de indivíduos - os que, normalmente, detinham ou estavam ao
lado do poder. Com o tempo, a palavra foi se espalhando através da leitura, e
mais e mais pessoas foram adquirindo conhecimento através dela.
Toda essa gente descobria na leitura um mundo
diferente. Uma porta a um infinito de possibilidades se abria diante delas.
Desde a informação, o conhecimento difundido pela palavra, às estórias mais
criativas e originais que advinham das mentes sublimes de seus escritores –
tudo estava na leitura, que era tudo para aquela época.
E houve muita gente boa nesse meio magistral e
soberano da escrita. Não vou citar nomes, mas estilos, tamanha a riqueza da
literatura mundial. Autores iluministas, barrocos, modernistas, parnasianos,
romancistas e demais se multiplicavam pelas bibliotecas do novo e do velho
mundo, criando, aprimorando ou reinventando estilos e tendências, chancelando a
escrita como a toda poderosa forma de conhecimento da humanidade.
Pensadores, filósofos, poetas... toda uma
classe de escritores diversos que ainda existe e respira a literatura agora, no
século XXI. Nesse nosso século XXI. Onde a tecnologia chegou e continua
chegando implacavelmente nos quatro cantos do globo, sem sequer bater à porta.
Ela, a senhora tecnologia, que criou e perpetuou a classe dos blogueiros. Que seguem, ao seu modo, com
seu estilo próprio, imprimindo a sua marca através da palavra na mente das
pessoas.
Ao mesmo tempo que vemos a irrefreável
tecnologia nos meios de comunicação, é com pesar que ainda hoje, muitas almas
vivem sobre a terra sem saber ler uma linha sequer. Que vieram e vão desta para
uma melhor sem escrever o próprio nome em uma linha na folha de papel. E esse
fato, mesmo que chocante, serve para nos mostrar que a escrita ainda hoje
denota PODER. O poder da palavra.
Essa simples constatação - ao mesmo tempo tão
aterradora e tão verdadeira - faz com que o homem do século XXI, que detêm para
consigo o poder da palavra (seja ela lida ou escrita), tenha mais poder que o
seu semelhante que não lê, ou que não escreve.
Isto é em sua essência,
senhores e senhoras, o poder da palavra.
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
Amor fluido
Escrito por
Angela Gomes
Amor fluido
flui abstrato.
Ainda que termine
difuso éter
propaga réstias sobre corpos;
arestas que se encontram
não deformam cantos.
Mas, não há mais sentido
para sons, rimas, magia.
E, ainda que absorto,
revolvendo nuvens, não há espera.
Incauto, permaneço à flor da pele
Desenhando frases na estratosfera.
Amor fluido
flui abstrato
à quinta-essência de um nome
sussurrado
Entre, palavras não ditas.
Tateias pétalas na flor;
Nas entrelinhas tatuo teu retrato.
Tudo deixa marcas no tempo.
O amor, nós em nós,
cravados.
Feito gota de chuva
que despenca do céu;
no sabor da dor
cristaliza na saliva
de corpos quebrados.
Tudo quando acaba
sobra um pouco?
Mas, não ouço mais tua voz.
As folhas se desprenderam no outono
e, dentro de mim o silêncio grita.
No arquivo morto
pó de estrelas dançam sobre as árvores.
As lembranças continuam vivas:
sempre-vivas
como as flores secas.segunda-feira, 24 de julho de 2017
sexta-feira, 21 de julho de 2017
Tarrafa
Escrito por
Angela Gomes
Noite translúcida.
Orvalho perfume de flor...
Trama entre a teia
Partículas de suor.
Sedutora escama,
Solitária cor...
Náufraga aquarela
Tingia nuances de azul
Do céu até formar o mar...
Beijo das ondas
Umedecendo os teus passos.
Nossos abraços
Às estrelas,
Soltos no grito dos astros.
Emaranhados nas pegadas,
Nossos rastros
Desenharam areia.
Sereia, peixe bordado de luz
Na manhã que principia...
quarta-feira, 12 de julho de 2017
Espere por mim
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
A consternação não cabe
Sobeja salgadamente pela face
O sentimento se esvai
O que era hoje torna-se saudade
Perpetrei o melhor
Para ser mais próximo
Sei que não foi o bastante
Tornou-se contraditório
Contrário ao meu bel-prazer
E ao que é correto
Foi-se antes da hora
Como se o tempo estivesse ao inverso
O lento acelerou
O eterno findou
O antes se tornou
A saudade que ficou
A efígie é o que resta
A saudade pinta a tela
A pintura eu já tenho
Impressa na minha cela
Eterna se torna
No momento que vai embora
Mas.....mais presente agora
Nos olhos que aflora
Com sua beleza tísica
Ainda era a mais bela das castas
Sensível ao toque....suave como seda
No seu coração....as mais ternas belezas
Fugiu aos nossos olhos
Mas outros agora a veem
Aprecie quem sempre te esperou
Segure sua mão e aproveite
Um dia nos depararemos
E deixarei de ser elegíaco
Na voragem da saudade viveremos
E então.....jaz um timorato choramingo
Início....não
é
Nem o......fim
Até logo......até
Espere......por mim
sábado, 24 de junho de 2017
sábado, 17 de junho de 2017
Poema relativo
Escrito por
Jessiely Soares
A noite só fica triste
quando é, de fato, preciso.
Há noites em que toda a luz
vem pousar aqui comigo
em um silêncio cheio de canções.
Há noites que nem os clarões
cortam a telha de vidro.
E nada, nada, nada
faz qualquer alarido.
A noite só se enche de escuro,
de cacos cortantes no muro,
quando chorar é preciso.
quando é, de fato, preciso.
Há noites em que toda a luz
vem pousar aqui comigo
em um silêncio cheio de canções.
Há noites que nem os clarões
cortam a telha de vidro.
E nada, nada, nada
faz qualquer alarido.
A noite só se enche de escuro,
de cacos cortantes no muro,
quando chorar é preciso.
segunda-feira, 12 de junho de 2017
PERPENDICULARES
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
O rascunho do que escrevo
O gosto eterno de um beijo
Ao som abafado do que vejo
Tornam ilógicos os
sentimentos
Quando encontramos duas
retas
Perpendiculares
Mefistofélicos atropelamos
com pressa
O que já era reto e vergamos
os olhares
A janela
Antes com a mais suntuosa
paisagem
Agora abraça
O muro....desconfortante
miragem
Vivo cada dia como se
fosse o penúltimo
Pois não tenho pressa
A fruta que amadurece
antes do tempo
Estraga-se de véspera
Viva
Aos pacientes da
estrada....à paciência na caminhada
Mesmo sendo nós
perpendiculares
Atropelamo-nos
Cedo ou tarde
Viva
Os rascunhos....os gostos
Os sons...os sentimentos...os
abrolhos
Lógicos...ilógicos...como
tantos outros
Mesmo retos ou tortos
Com razões ou devaneios
São somente nossos
Perfeitos
quarta-feira, 24 de maio de 2017
domingo, 21 de maio de 2017
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Da plenitude
Escrito por
Jessiely Soares
N'alguma hora de infinita solidão
alguém, por essa serra
abre a janela.
A noite devassa
se põe devagar na sua cama.
Nada mais lá fora,
nem mesmo os gatos ronronam,
tal negrura se apresenta.
Tem noites em que tudo é tão frio
que a lua não se atreve a aparecer
então, só a névoa
é plena
alguém, por essa serra
abre a janela.
A noite devassa
se põe devagar na sua cama.
Nada mais lá fora,
nem mesmo os gatos ronronam,
tal negrura se apresenta.
Tem noites em que tudo é tão frio
que a lua não se atreve a aparecer
então, só a névoa
é plena
sexta-feira, 12 de maio de 2017
FALTAM SOBRAS
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
Sobram
pessoas......faltam
Faltam
sentimentos......faltam
Faltam
verdades......sobram
Sobram
momentos......faltam
Faltam
palavras.......faltam
Sobram
crueldades.......sobram
Faltam
famílias......faltam
Com
sobras de bondade.......faltam
Sobram
inimigos.......sobram
Faltam
tecidos.......faltam
Para
pararem tremidos.......faltam
Sobram
gemidos.......sobram
Sobram
malefícios......sobram
Sobram
céticos.......faltam
Falta contigo.......falta
Sobro
sozinho.......sobro
Faltam
calafrios......faltam
Para
esquentarem o frio......faltam
Sobra
o frio.....sobra
Sem
você comigo.......falta
Faltam
alegrias......faltam
Com
sobrinhos.......sobram
Somente
tristezas.......sobram
Você
comigo......faltam
Sobram
faltas
Faltam.....sobram
Sobras.....faltam
Faltam
sobras
quarta-feira, 26 de abril de 2017
segunda-feira, 24 de abril de 2017
sábado, 22 de abril de 2017
Capacidade
Escrito por
Rodrigo Domit
Desde que o tempo é tempo, as pessoas desejam ter a capacidade de enxergar através das outras. Sensações, sentimentos e os mais profundos pensamentos. E a essa capacidade, deu-se o nome de compreensão.
Nos tempos atuais, caminhando pela rua, percebe-se que as pessoas têm a capacidade de enxergar através das outras; A essa capacidade, dá-se o nome de indiferença.
Nos tempos atuais, caminhando pela rua, percebe-se que as pessoas têm a capacidade de enxergar através das outras; A essa capacidade, dá-se o nome de indiferença.
sexta-feira, 21 de abril de 2017
Outono
Escrito por
Angela Gomes
folhas
pelo chão
galhos de árvores se despem
cobrem-se
de outono
Foto: Efigênia Rolin, artista plástica e poetisa, na Feira do Poeta, em Curitiba.
Angela Gomes (arquivo pessoal).
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Desesperación
Escrito por
Jessiely Soares
De todas as faces das minhas angústias
essa, aqui, refletida na mesa
entre corais e bandejas
essa é a que mais me domina.
Essa, coberta de tantas esferas
essa que a tudo se assemelha
essa que reflete e verseja
essa que mais me ilumina
é a que mais me amedronta.
Essa que me acompanha
quando nada mais me encontra.
Essa que eu nunca confesso,
essa com a qual nunca sonhei
essa completa e disforme
que me prende e não some
essa estranha insone
essa, meus caros leitores,
essa que sou eu mesma
embebida em tantas tristezas
que eu já nem lhe sei mais o nome.
essa, aqui, refletida na mesa
entre corais e bandejas
essa é a que mais me domina.
Essa, coberta de tantas esferas
essa que a tudo se assemelha
essa que reflete e verseja
essa que mais me ilumina
é a que mais me amedronta.
Essa que me acompanha
quando nada mais me encontra.
Essa que eu nunca confesso,
essa com a qual nunca sonhei
essa completa e disforme
que me prende e não some
essa estranha insone
essa, meus caros leitores,
essa que sou eu mesma
embebida em tantas tristezas
que eu já nem lhe sei mais o nome.
quarta-feira, 12 de abril de 2017
A BRECHA
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
Tanto tempo sem
escrever
Tudo por fazer
Me preocupa a
falta criativa
Ou seria a sobra
com falta de tentativa
Tanto trabalho à
prescrever
Me subestima sua
tentativa
Ou seria a falta
do que fazer
Para fazer
faltar minha sobra criativa
Soberba
militância a sua
Só não arquitetava
o que acontecia
Enquanto pairava
no ar a falta criativa
A cabeça cheia
de sobras esperava a tentativa
Finalmente me
deu a brecha
Agora pairam no
papel as sobras criativas
Falhou sua
tentativa
Findou, por não
arquitetar o que acontecia
Não volto
plenamente, pois há trabalho à prescrever
Quase tudo por
fazer
Porém, já não me
preocupa a falta criativa
Sei que são
sobras esperando a tentativa
Dê brecha para
você vê
sexta-feira, 24 de março de 2017
quarta-feira, 22 de março de 2017
Espetáculo
Escrito por
Rodrigo Domit
A noite de estreia é um espetáculo, mágico, incomparável.
As noites seguintes já não têm o mesmo encanto. Os sorrisos já não são mais os mesmos.
Algum tempo depois, ela junta as tralhas e toma outros rumos, paixão itinerante.
sexta-feira, 17 de março de 2017
Apoética
Escrito por
Jessiely Soares
Quando a poesia
some
sobra algo que eu desconheço
um souvenir,
um endereço,
uma carta sem destinatário,
meu átrio esquerdo dilatado
e a minha boca seca
e insone.
Quando a poesia
se esconde
deixa pistas,
poeira,
sustos,
deixa ferida aberta nos pulsos
deixa a sutura
imperfeita
e ridícula
Essa poesia
fêmea
dominante da manada
irmã gêmea do nada
trôpega,
amanhecida,
poesia-menstruada,
útero à ferro e brasa
gritando uma dor felina
me jogando num manto de breu;
Essa poesia me sangra
me deixa sobre areia quente
acha que me esqueceu...
poesia meu nome é guerreira
se você se afasta,
não temo,
se faltar-me a poesia,
se sobrar-me apenas agonia,
a poesia sou eu.
some
sobra algo que eu desconheço
um souvenir,
um endereço,
uma carta sem destinatário,
meu átrio esquerdo dilatado
e a minha boca seca
e insone.
Quando a poesia
se esconde
deixa pistas,
poeira,
sustos,
deixa ferida aberta nos pulsos
deixa a sutura
imperfeita
e ridícula
Essa poesia
fêmea
dominante da manada
irmã gêmea do nada
trôpega,
amanhecida,
poesia-menstruada,
útero à ferro e brasa
gritando uma dor felina
me jogando num manto de breu;
Essa poesia me sangra
me deixa sobre areia quente
acha que me esqueceu...
poesia meu nome é guerreira
se você se afasta,
não temo,
se faltar-me a poesia,
se sobrar-me apenas agonia,
a poesia sou eu.
quinta-feira, 16 de março de 2017
terça-feira, 14 de março de 2017
domingo, 12 de março de 2017
OUTRO MUNDO
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
Hoje
Repeti
o mesmo mundo....no fim
Viver
de amor....e depois
Morrer
brandamente em mim
Outro castelo recriei
Após
rochas caírem
Até
a pintura borrei
Com
as mais belas alvitres
Agora
procure o que te desperta
O
que te deixa em alerta
O
que queima, mas não arde
O
que, mesmo no fim, nunca é tarde
O
que ficou para trás
São
esfumaturas embranquecidas
Perde-se
o tom da tinta
Mas
não a importância adquirida
Pois
mesmo manchas abstrais
Ainda
borram a pintura que já fora
A
vida em sete cores iniciais
Torna-se
cinza, diferente de outrora
E
não segui seus passos
Preferi
os meus
Eram
mais suaves
E
livres do que os teus
Pesadas
eram as rédeas
Que
determinavam a direção
Dos
raios e das pedras
Que
atingiam o coração
Amanhã
Vou
reinventar outro mundo.....se der
Morrer
de amor....e depois
Ressuscitar
num domingo qualquer
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
Mundano
Escrito por
Rodrigo Domit
O golpe ditatorial teve, no exército, seu braço armado
E na imprensa, o desalmado
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Doutor Edgar, Psicólogo
Escrito por
André Bortolon
O homem
olhou fixamente para o cartão de visitas que havia recebido. Nele, a inscrição:
Edgar
Christian
Doutor em Psicologia e Mestre em Meditação
Transcendental
Já fazia
tempos que ele queria fazer aquela ligação. Agora era o momento. Procrastinar
não adiantava mais, especialmente àquela altura do campeonato. O homem passou a
mão no celular e ligou. Uma voz feminina atendeu. Tratava-se da secretária do
doutor. Muito solícita, a jovem (pelo tom de sua voz) marcou um horário para
uma conversa com o doutor. Ao final da ligação, contudo, ela salientou: “Se
você recebeu o cartão do doutor, é porque foi por indicação. Portanto, saiba
desde agora que só divulgamos esse trabalho para quem realmente precisa do
doutor. As demandas pelos serviços dele são enormes, e o doutor não pode
atender a todos. Então, peço-lhe por gentileza que não comente com ninguém a nosso respeito...”
O homem já
sabia aquele papo todo. O doutor vivia corrido. Era “concorrido”. Ele só
atendia figurões, gente graúda. Não tinha tempo para qualquer um, para povão.
Só podia ser. O homem sabia disso, e ficou feliz que, depois de tudo o que
tinha passado, feito e vivido nos últimos anos, finalmente teria a oportunidade
de tirar de dentro o que lhe incomodava. “Antes tarde do que nunca” pensou,
feliz por ter um horário para si já na tarde seguinte.
-------------------------------------------------------------
O lugar
parecia mais com um prédio abandonado. Uma porta com um pequeno interfone, e pronto,
lá dentro estava o homem. “Ao menos, o interior é bem confortável” pensou o
homem, sentando-se num sofá de couro, enquanto a secretária – uma menina nova,
de fato – o pedia para aguardar um instante. Em seguida, ela perguntou:
- O senhor
trouxe o pagamento em espécie?
- Sim. Está
aqui. Só preciso de uma nota fiscal, pois sairá como pagamento da empresa.
- Tudo bem.
Ao final da consulta estarei lhe entregando a nota, que será para o tratamento
todo já.
- Ok, de
acordo. – disse o homem, tirando de dentro do paletó uma carteira forrada de
notas de cem.
Com a
rapidez e a precisão de quem conhece dinheiro, a jovem secretária contou os
cinco mil reais, e agradeceu ao homem. Em seguida levantou-se, e disse:
- Vamos? O
doutor já pode atende-lo agora.
Entrando na
sala, o doutor recebeu-o com um sorriso amigável em seu rosto. Sem um divã para
se deitar, havia na sala do doutor apenas uma confortável poltrona de couro
preto, que ficava virada de costas para a porta, bem de frente para a do
doutor. Atrás do psicólogo, uma estante forrada de livros, que ia de fora a
fora. O homem teve a impressão que já conhecia o doutor Edgar de algum lugar,
mas não sabia ao certo de onde.
- Sou um
tipo físico comum. Muita gente acha que me conhece, seu Firmino... prefere que
o chame assim ou por seu primeiro nome?
- Pode ser
Oscar mesmo doutor...
- Edgar, me
chame só de Edgar. Aqui somos amigos. Nada do que acontece dentro desta sala sai
daqui, jamais. Sabe que a minha reputação é algo que estimo muito. E se está
aqui, Oscar, você pode me contar absolutamente tudo nos mínimos detalhes, que
lhe prometo desde já: sua vida irá mudar drasticamente a partir do fim desta
sessão. Você não está aqui por acaso. Ninguém vem aqui por acaso...
- Eu sei
Edgar, eu sei. Só espero mesmo que adiante de verdade para mim...
-------------------------------------------------------------
E a
consulta transcorreu muito bem, superando as expectativas de um antes cético
Oscar Firmino. Sim, o famoso empresário Oscar Firmino, dono de uma fortuna
outrora estimada em 100 milhões de reais, mas que vinha passando por uma série
de problemas recentes, a maioria deles, para não dizer todos, por culpa única e
inteiramente sua. Após um desabafo profundo e sincero, como Oscar nunca havia
feito em toda a sua vida para ninguém, é que o doutor lhe deu as considerações
finais:
- Muito bem
Oscar, você está de parabéns por hoje. Já tenho tudo o que preciso de você para
a mudança, que começará a surtir efeito nos próximos instantes. Antes de lhe
dar as instruções de como o senhor procederá para a sua mudança de vida, uma
pergunta: estava bom o chá servido por Ágata?
- Hum, sim,
delicioso... até por sinal, me parece que agorinha mesmo eu fiquei um pouco
tonto...
- É? Nesse
exato momento?
- Sim,
parece uma sensação de leveza, não normal... mas fale-me doutor, digo Edgar, o
que devo fazer a partir dessa semana?
- Sim, só
um momentinho... – o doutor voltou-se ao seu laptop e falou: - Ágata? Sim,
paciente já concluído aqui...
Voltando
sua atenção para Oscar, olhando bem fundo em seus olhos – que já pareciam mais
cansados, ligeiramente vermelhos – é que o doutor Edgar disse:
- Pois
então, Oscar Firmino, você tem plena consciência que roubou dinheiro grosso de
seus ex-sócios... correto?
- Sim Edgar,
mas como lhe falei, foi porquê...
- Não,
Oscar. Agora você não precisa justificar mais nada. Apenas concorde comigo, se
o que eu lhe falar realmente aconteceu, independente de motivo. Tudo bem?
Apenas diga “sim” a cada pergunta, para seguirmos com o tratamento, OK?
- Sim, pode
ser – dizia Oscar, deixando o nó da gravata mais frouxo, evidenciando o
mal-estar repentino.
- Então
vamos lá, novamente: você tem plena consciência que roubou dinheiro grosso de
seus ex-sócios, Oscar?
- Sim.
- Você
negou e/ou abandonou dois filhos legítimos seus fora do matrimônio?
- Ah...
sim.
- Você
subornou pessoas públicas para conseguir benefícios fiscais ou vantagens sobre
outras pessoas?
- Sim,
várias vezes...
- Você
pegou parte bem maior do que a reservada para você da herança de seu falecido
pai, através de esquema ilícito com advogados, para ficar com mais dinheiro que
seus irmãos e irmãs?
- Sim...
- Você
deveu e até hoje deve dinheiro para fornecedores, alguns dos quais inclusive que
tiveram de fechar suas portas, devido principalmente ao rombo financeiro
causado pelo senhor?
- Sim, sim!
Nessa hora
o suor na testa de Oscar já era visível a olho nu. Que perguntou:
- O ar
condicionado tá desligado? Não tô legal...
Gentilmente
abrindo a porta do consultório, Ágata entrou delicadamente no recinto, sem que
Oscar a percebesse. O doutor prosseguiu:
- Pois
então seu Oscar Firmino, a sua tontura e o seu mal-estar não são em vão...
- Como
assim?
- O chá que
o senhor acabou há pouco de tomar, continha uma quantidade de veneno capaz de
matar um ser vivo de até 150 quilos em menos de uma hora... o senhor, como deve
pesar uns... noventa, estou certo?
- O quê?!?
O que você disse, seu maldito, O QUÊ?!?
Fazendo
menção que iria levantar-se atabalhoadamente de sua poltrona, o doutor Edgar,
apenas com um olhar assertivo para Ágata, deu o sinal. Com uma agilidade de
quem sabe o que faz, antes que Oscar Firmino levantasse da poltrona, Ágata
segurou-o firme pela testa com sua mão esquerda, enquanto com a mão direita
firme atravessou uma reluzente navalha pela garganta de Oscar Firmino.
Um esguicho
de sangue atravessou a pequena mesa de centro que separava doutor de paciente, deixando a cara do
doutor Edgar toda vermelha com o sangue quente recém-saído da jugular de Oscar
– que convulsionou por poucos segundos, até morrer ainda sendo seguro por Ágata.
Pacientemente,
o doutor Edgar tirou um lenço de seu bolso, e começou a limpar o sangue de
Oscar do rosto, que era sentido já em seus lábios.
- Ótimo
trabalho, Ágata. Você é ótima no que faz. Estou orgulhoso de você!
- Ah
doutor, estava com muita vontade de passar essa navalha na garganta de
alguém... saudade disso, sabe? Mas... a única coisa é o sangue, sempre dá um
trabalho extra pra gente, né... isso não é tão prático, não é doutor?
O doutor
levantou-se para auxiliar a “sua Ágata”, que era muito mais do que uma
secretária para ele; Ágata era a razão de tudo para Edgar. Que falou:
- Pode
soltá-lo, Ágata. Só forra o chão ali que eu mesmo boto o corpo desse Firmino
ali em cima. Você já fez demais por hoje, deixa aqui comigo – e nesse momento,
enquanto segurava a cabeça do homem para que seu corpo não caísse no chão, é
que o doutor beijou Ágata na boca, sentindo um prazer difícil de pôr em
palavras.
Quando suas
bocas se desencostaram, Ágata, agindo como uma gata de estimação, lambeu do
rosto do doutor os últimos vestígios de sangue do empresário.
- Ah, assim
você me acaba... vamos terminar nosso trabalho primeiro Ágata, depois a gente
pode fazer amor aqui, com o cadáver nos olhando...
- Hum...perfeito!! – respondeu Ágata empolgada, ansiosa para cair nos braços de seu amado.
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