sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Svalbard

Me lembro como hoje, o dia em que Chico me disse:
- Estou indo morar em Svalbard, cara. Eu e a Mia.
- Onde?
- Svalbard, cara. O lugar mais ao norte do mundo.
- Não conheço...
- Olha no mapa. Mas olha bem em cima, lá pra cima da Europa. Tu vai ver tudo branco lá...
- Tu tá é louco, meu!
Essa foi a minha primeira reação. Isso não faz muito tempo - quatro, talvez cinco anos atrás. Pensei no frio. Não no frio que temos, por exemplo, lá no sul do Brasil; mas sim, um frio pior que o dos Estados Unidos quando aparece em notícia do Jornal Nacional. Daí perguntei:
- E que língua eles falam lá?
- Norueguês. Lá pertence à Noruega, Andrezão (assim, bem como ele costuma ainda me chamar). Mas todo mundo fala inglês, sem stress. E pagam uma grana pra quem for trabalhar lá.
Mesmo após questioná-lo por mais um tempo, ainda assim achei difícil de engolir a ideia de meu amigo morar num lugar meio que, sei lá, tão isolado.
Dito isto, decidi por seguir minha vida no Brasil.
Após alguns meses, Chico estava lá empregado, ganhando bem e vivendo feliz com sua cônjuge sueca. E volta e meia me ligava, contando-me novidades. Sempre excitantes. Nunca pra baixo, nem uma vez sequer. Eu ainda resistia:
- Mas e a noite polar cara? Tudo na maior escuridão... não bate uma deprê fodida?
- Bate nada, cara. O negócio é não esquentar. Depois vem o período de sol pra compensar. Três meses de noite, três meses de dia. Louco né?
"Louco é você!" pensava cá com meus botões. E seguia eu, vivendo minha vida abaixo de sol, calor úmido e muito suor no Brasil.
Um par de anos já haviam se passado quando, numa noite qualquer, nos falamos novamente. Desta vez, Chico disse-me que já tinha uma bela casa própria por lá. Não só isso, mas ele e sua escandinava viajavam tudo o que podiam e mais um pouco. Não era à toa que ele fincava sua bandeira no chão quando falava em Svalbard:
- Aqui é minha casa, cara. O meu lugar. Moro numa baita casa aqui, com tudo. No Brasil, não teria nem uma bicicleta própria, eu acho.
Novamente, uma aura pessimista, provavelmente com uma pontinha de inveja, teimava em emanar de dentro de mim; aí lhe perguntei:
- Mas, me diga uma coisa amigo velho... compensa trabalhar um monte só pelo dinheiro...???
Aí ele me contou que estava abrindo a sua própria empresa por lá e, pasmem, fazendo o que ele mais gostava na vida: fotografando e filmando. Seus panos de fundo? Montanhas cobertas de neve, geleiras, ursos polares e (a preferida dele) a aurora boreal. Depois que soube das últimas novidades, parei de nadar contra a corrente. Deixei o negativismo de lado - e se esse ficou em algum lugar, foi lá no Brasil - e me mudei de mala e cuia para cá, há exatos 8 dias e algumas horas atrás. Ao teclar estas últimas palavras, ninguém mais, ninguém menos do que o próprio Chico bateu à minha porta. Já era 1 da madrugada. Apressado, foi logo dizendo:
- Corre Andrezão, desce logo. Tá bombando uma aurora no céu. Vamos lá ver e fotografar ela, agora!!!

Botei um ponto final na história e me mandei pra rua com ele...

5 comentários:

Anônimo disse...

Que dá hora Andrezão! Não saia daí não, vou aí te visitar! Abraço e boa sorte!

GG

André Bortolon disse...

Sim, te receberei com o maior prazer, cara!!!

Angela Gomes disse...

Calor humano, Sucesso e Sorte!!!

Angela Gomes disse...

Calor humano, Sucesso e Sorte!!!

André Bortolon disse...

Obrigado, Angela!