domingo, 30 de novembro de 2014

Convidada B. H. Lauren



Deixou sua capa de invisibilidade em casa, hoje?

Este é um relato ao qual venho falar. Vou cita-lo de uma maneira peculiar. Usar palavras difíceis não vai me ajudar. Porém, talvez te deixe a pensar: “Ninguém é feliz sendo invisível”. Quantas reflexões nós podemos tirar? É uma frase para clarear. Já pensou se ninguém pudesse te enxergar? Será que a solidão poderia lhe agarrar? Será que a tristeza iria lhe encharcar? Já pensou que você pode ou poderia ser um fantasma? Aqueles de olhos negros e fundos, de cabeças baixas como se carregassem o peso do mundo? Quantas pessoas de fato morrem hoje em dia? Aliás, quantas pessoas nós matamos?

Contudo quero relatar um pequeno texto para meditar:
“Certa vez vi um jovem rapaz desejar um “Bom dia” a um velho mendigo. Aquele senhor não parecia insano nem bagatela. A expressão do velho era de espanto e alegria. No final ele dissera: “Não estou morto”. E saiu a andar por aquele dia”.

Eu não compreendi muito menos entendi o que havia acontecido em tão poucos segundos. Um velho dizer que não estava “morto”? Depois de tanto pensar é que realmente enxerguei. Passou tanto tempo sendo ignorado, mal-tratado, afastado, acorrentado, que deve ter chegado a pensar que teria falecido. Seria loucura da cabeça dele ao pensar assim? Será que fomos nós a matá-lo? Que seres racionais nos tornamos? Frios, calculistas, mesquinhos, medíocres? Ninguém quer saber do próximo se isso nada pode lhe acrescentar.

Fadamo-nos a solidão diária. Por que dos outros não lembramos? Ou lembramos e ignoramos? Alguns simplesmente se escondem. E aquele senhor, como muitos outros, se escondeu do mundo. Temos que perder o medo de nos mostrarmos. Aparecer não é ruim. O “ser” impulsiona o homem em suas conquistas. Se deixarmos de “ser” deixamos de desejar. Contudo, não devemos esquecer que antes de qualquer coisa existe alguém ao seu lado, que talvez um “bom dia” deixe o dia mais claro.

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sábado, 29 de novembro de 2014

Índio não quer cachimbo só e fumaça. Índio quer fogo!

(Emerson Wiskow)

A fumaça atrapalhava a visão dos que entravam, era assim todas as noites no Bar do Escritor, os que estavam lá não se importam, encharcados pelo álcool, sem distinguir o que era fumaça de cigarro ou do gelo seco que vinha do palco. A rotina era essa, corpos alcoolizados, música ambiente, risos... A garçonete olhava tudo com olhos diferentes, especialmente nessa noite estava diferente, como se repensasse toda sua vida.
-Ei Me! Traz meu conhaque. Está de moleza mulher? Era Véio China, sempre mal acostumado, achava que ela tinha que esperá-lo com o copo à mesa.
-Olha o jeito caboclo... Eu não bato em véio e nem bebum, mas tenha respeito com minha nega. Disse
Doctor, sempre tomando as dores da moça, como se fosse seu dono. Ela tinha grande carinho por ele, o chamava de Guapeca, cão vira lata no dialeto gauchêz.
-Ao trabalho. Sirva a mesa do fundo, eu cuido desses bebuns. Querem tratamento de primeira? Eu dou!  O Barman depositou com força o copo de conhaque na mesa do velho. Ele percebera o olhar perdido da moça e sabia que não estava bem. Se o Bar não tivesse tão cheio até a dispensaria, ele era um bom patrão.
Começa uma briga... Ossip, assíduo freqüentador, vendo o Fernando, maloqueiro conhecido, se Insinuar para uma freguesa, interveio. Cadeiras voaram, copos foram arremessados, gritos histéricos das moças do reservado, Thaís, Alessandra, Larissa, Jimenna, Flávia e Rosália, e o Barman sem saber onde acudir primeiro.
Um grito de mulher entoa e todos fazem silêncio: Me, a garçonete, fora atingida por uma garrafa na cabeça. A cena parecia congelada. Todos ficaram mudos.
-Acertaram a Me! Foi o único som que se ouviu no Bar. Todos queriam socorrer a moça. O sangue
Jorrava no chão sujo.  Seria seu fim? Morrer de uma garrafada num Bar de quinta categoria? O Barman ficou histérico:
-Quem foi o filho da puta que fez isso?
-Esquece disso e vem estancar o sangue... Disse Leonardo, o segurança que entrara depois de ouvir a
gritaria. Pegaram uma toalha e amarraram firme em sua cabeça.
-Tem algum médico aqui? Paulão Fardadão,  policial assíduo do boteco,  perguntou aos curiosos.
-“Mim ser” - Um cara minguado, cor de burro quando foge, cabelos escorridos, parecia descendente de índio brasileiro, todo feinho de dar dó.
-É médico, fera?
-“Ser sim, lá na tribo dos Tupiniquins da Amazônia”.
-Faz alguma coisa então seu índio de uma figa! O Barman estava descontrolado! Sempre presenciava brigas no seu Bar, mas nunca o prejuízo ultrapassava o lucro. Dessa vez sabia, era peça primordial essa garçonete, ia ser a falência na certa se morresse, além de que, seu orgulho de macho estava atacado, afinal todos pensavam que ele a comia e,  que importava a mentira se isso o fazia ser visto como um garanhão? O coitado vivia para o Bar, sem muito tempo para relacionamentos, só de vez em quando uma puta ali, outra aqui...
-“Índio precisar privacidade, levar moça pro reservado. Índio usar ervas e cachimbo milagreiro”. Levaram a moça e índio se trancou no quarto.
Depois de duas horas saiu com cara de felicidade e disse:
-“Moça bem, vai viver”. A garçonete veio logo atrás, toda desalinhada e com um sorriso sem vergonha na cara. Todos se aproximaram para vê-la.
-“Deixem moça ... Ela precisar  sossego... Agora ser Lua Morena, noiva de índio Cavalo Malhado”.
-O que?
-“Mim dizer: Moça branca ir pra tribo casar com índio. Tudo muito rápido, igual nuvem de fumaça”.
-Que tribo caralho?...
-Desculpa chefinho, eu vou sim, encontrei o amor da minha vida...Falou a moça agarrando o braço do índio.
Saíram em disparada sob os olhares atônitos de todos.
O faxineiro Kaspa varria os cacos quando reparou na garrafa que tinha acertado a garçonete.
-Que estranho chefe. Essa marca de bebida eu nunca vi por aqui. Cachaça de Manaus.
-Deixa ver. O barman leu no rótulo: Fabricação artesanal da Tribo dos Tupinanquins da Amazônia.

-Mas que porra é essa...



Textos de Me Morte
(esse velhinho foi retirado do Bar do Escritor em meados de 2007)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Marta continuava sem dar sinal de vida, talvez estivesse mesmo ressentida com o conselho de Jesueh, quando esta estava a passar um mau bocado com o patrão. Ela eram de decisões repentinas e por vezes bastante frias para quem as recebia. Jesueh de uma forma original e de conhecimento de vida, tentava mostrar-lhe o lado da liberdade sem freios. Claro que apesar de Marta ser uma mulher bastante inteligente, não tinha a idade, e experiência de vida dele. Custava acreditar que do lado dele pudesse haver uma porta para a felicidade. Prática e resolvida nas suas ações, o mundo dela limitava-se à sua pequena cidade e núcleo restrito de amigos. Mesmo que Jesueh quisesse mudar Marta, isso não iria acontecer, pois ela não o estava a amar. Jesueh não lhe podia dar muito mais do que lhe dera até então. E talvez a diferença geracional fosse mesmo a principal entrave para terem um caso de amor.
 
by Quito Arantes

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Textos no Recanto das Letras




Hoje é dia de propaganda.

Seguem os links de dois textos publicados no Recanto das Letras.

Rua Campestre fará parte de meu livro de contos (ainda sem título definido), e é uma pequena história sobre um suicida.

Acorda é um poemeto selecionado no Projeto Pão e Poesia, de Blumenau (SC).



http://www.recantodasletras.com.br/contospoliciais/5043876

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/5047288

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Preto, branco, cinza, vermelho

Como pode, um único pequeno espaço
Reunir tantos corpos, tão jovens?
Vagam pra lá e pra cá
Apressados em suas silhuetas
Fechados em suas latarias
Preto, branco, cinza, vermelho.

Para onde vão e quem são?
Tão parecidos vistos daqui
Tão distantes vistos de perto.

Cada um, concentra em seu universo
Seus mistérios, anseios e traumas
Todos eles, escondendo de si
Querendo compartilhar
Preto, branco, cinza, vermelho.

Não fossem vistos daqui
Seria eu, mais um deles?
Por que é que não se esbarram?
Por que é que não se topam?
E quando se olham,
Todos dizem a mesma coisa:

Que matéria prima
Brota de veia tão morta?
Que sentimento esplêndido
Navega em coração de chagas?

Não fossem eles, todos iguais
Estariam aqui, no meu lugar.
Mas seguem na caminhada lenta
E inevitável
Sempre balbuciando as mesmas palavras:

Preto, branco, cinza e vermelho.

Branca de Neve da Silva

Com nuvens negras, num fim de tarde,
após trabalho o povo é um mar de
gente à espera pra ir embora
pras suas casas. Não vêem a hora
do seu descanso. Este é o motivo
pro seu aperto no coletivo.

E o dia todo não teve jeito:
foi um abuso, um desrespeito.
O olhar desvia, a boca calada,
por mais que queira não fala nada,
no fim do dia, cansado e mudo.
E o ônibus chega e engole tudo...

A sua estória, tão repetida,
outro retrato da triste vida,
não tem princesa ou castelo enorme,
não tem fascínio, só dor e fome,
chegar em casa é só o que lhe agrada.
Do pobre é este o conto de fada.

(em 04/11/2013)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Queria ser um cachorro


Tentou. Procurou especialista. Investigou métodos de transformação. Estudou por décadas. Tentou de tudo.

Tudo o que conseguiu foi aprender a urinar no jornal.

sábado, 22 de novembro de 2014

Antologia Quinta Barnasiana



O Bar do Escritor, lança nesta quinta-feira (em Brasília - DF, no Senhoritas Café, 408 Norte) sua quinta antologia de contos, crônicas e poemas, a QUINTA BARNASIANA.  O BdE é um movimento literário que busca a divulgação do conhecimento, a amplitude do pensamento e a expansão da liberdade, tem “barnasianos” em todos os estados brasileiros e alcança 13 mil livros publicados com esta obra.

Quinta, em português da pátria-mãe, é um terreno rural, uma enfermaria para prostitutas ou o número ordinal feminino. Esta quinta reúne 38 autores brasileiros e um de Moçambique, em 240 páginas de entretenimento literário, focado na diversão das experiências vividas em assuntos debatidos em mesas de bares. A capa foi pintada em naquim por Paulo Branco, que ilustrou em revistas como Pasquim, Playboy, Bundas e em livros de Ziraldo e Ruben Alves.

O pocket-book do BdE tem os escritores de Brasília André Giusti, Andrea Carvalho, Cinthia Kriemler, Deliane Leite, Giovani Iemini, Jorge Amâncio, Larissa Marques, Lourenço Dutra e Roberto Klotz; de Moçambique Mahiriri Ossuca; de Goiás Arthur Miranda, Carlos Alvarenga,  Cecília Mello , Cristiano Deveras, Julia Pascali, Leonardo Macrô, Mahara Damasceno, Rafael Albuquerque, Robson Lousa, Vinícius G. Ferreira  e  William Trapo e, de outros estados (do Amazonas ao Rio Grande do Sul) Andrade Jorge, André Anlub,  Angela Gomes, Carlos Cruz, Fernando Troncoso, Flá Perez,Luan Luiz, Magmah, Marcio Takenaka, Maria Ligia Ueno, Mariângela Padilha , Pablo Treuffar, Regina Vilarinhos, Renato Saldanha Lima, Ruth Cassab Brólio, Ruy Villani, Simone Pedersen e Wilson R..



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lançamento em Brasília - QUINTA BARNASIANA


Bar do Escritor
orgulhosamente
convida
Lançamento da Quinta Barnasiana
com os escritores de Brasília

André Giusti, Andrea Carvalho, Cinthia Kriemler, 
Deliane Leite, Giovani Iemini, Jorge Amâncio, 
Larissa Marques, Lourenço Dutra, e Roberto Klotz.

Dia 27 de Novembro de 2014 / 5a-feira
A partir das 19h
Senhoritas Café - CLN 408, bl E, loja 42 - Brasília DF

5a Barnasiana - Lançamento Nacional em 27 de novembro


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Viver e recordar


Depois de muito tempo, descobriu-se que, na verdade, os responsáveis pelas pinturas nas cavernas não foram os homens, mas sim os antílopes, mamutes, tigres e gnus. Cada espécie havia feito suas pinturas em homenagem a seus mortos durante as batalhas do dia a dia. Somente após terem encontrado estes registros é que os homens começaram a fazer os seus também.

Atualmente, os homens são os únicos a manter registros além das marcas no corpo e na alma. Os outros animais não têm dúvida de que ainda demoraremos a perceber que é melhor viver do que recordar.



quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Convidado Wandesson Marques



COISA DE ALMA

Minh'ama anseia por algo de alma.
Um'alma gêmea, talvez - se isso for coisa de alma.
De corpo e alma, almejo manjar de teus seios.
Mas não posso - não é cousa de alma.


O MUNDO GIRA


Quando giro em excesso, logo fico tonto.
Quando bebo, logo desmaio pela pouca capacidade que tenho de digerir álcool...
Se eu beber e ficar tonto, posso ou não desmaiar, dependendo de quantas doses eu tomei.
Mas, uma cousa é certa: o mundo gira, mas nem por isso ficamos tontos ou paramos de beber por desmaiar.



REPETIDAMENTE


Eu canto quando eu canto.
Como quando eu como.
Bebo quando eu bebo.
Acuso quando eu a-cuso.
E faço tudo isso de novo quando eu bebo.

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