quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

poeminha infantil


Se frágil estou
culpa minha foi

Me convenci
que garanhão és
e bobinha sou

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Agora sou tu em mim

Fugindo do caos sofrido
Encosto a alma à mãe Natura
Sinto os sinais dos seres selvagens
Que me despoluem as amarras
Da intempere do sufoco urbano.

Destilo nos sons da Natureza
Nos arranques voluntários
Da minha igualdade partilhada.
Rasgo as palavras inusitadas
De um mundo que não me pertence.

Refresco a minha face
Nas tuas águas cristalinas 
Viste-me chegar empobrecido
Nas rédeas do mau-olhado.
Agora sou tu em mim,
Plenitude da Natura.
Agarra-me, leva-me contigo…
Quito Arantes/Portugal

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pit-boy


Tinha braços de leão,


tórax de touro,

garras de águia,

sangue de fera.



Só lhe faltava um coração de gente.

Quando Voltar El Rei D. Sebastião

Um dia El Rei D. Sebastião vai voltar:
El Rei redivivo, ressurgido dos mortos,
virá restaurar o Império
e o exército d'El Rei D. Sebastião
serão extras de um filme de Romero.
Quando voltar, El Rei D. Sebastião
nos vai fazer frequentar a igreja.
El Rei D. Sebastião vai coibir o consumo abusivo de cerveja;
proibir ir à praia sem roupa;
acabar com essa pouca-vergonha
de transar antes do casamento,
comer carne às sextas-feiras,
dormir mulher com mulher
e barbado com barbado.
D. Sebastião I, O Desejado, quando vier,
vai por fim a essa mania da Colônia
de querer ser Sede da Coroa.
Um dia El Rei D. Sebastião,
à frente de uma armada de mil caravelas,
vai botar ordem nesta zona.
Um dia El Rei D. Sebastião vai voltar
e acabar com essa bela balbúrdia.
Nesse dia, por via das dúvidas,
me mudo prum outro lugar.

Amanhecedor de sorriso em alma triste

sou Sol?
sou só
a luz
que expulsa
a sombra...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A VIDA E O TEMPO



A vontade de devorar a vida tem que ser insaciável.

Se for para viver tudo em um único dia, aproveite!

Se for para viver um dia de cada vez, vá em frente, mas sem ansiedade!

Se for para ter boas lembranças, valorize seu agora!

Saia de casa sem pretensão – sem objetivos, sem meta, sem missão!

Mantenha a mente em sintonia com o universo. (use a intuição, não tem erro!)

Você nunca sabe quem vai encontrar pela frente, esteja sempre pronto(a), cheiroso(a) e aberto(a) para novidades.

No final, se tudo parecer óbvio...

Recomece, faça tudo diferente! mas lembre-se que a vida e o tempo andam de mãos dadas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mulher da minha falta de sonhos


Sente o vazio no fundo do travesseiro. Revira-se e estica os braços em busca daquela presença; Uma esperança, nada além disso. Por mais que se deparasse com outro corpo, não seria aquele. Nunca mais foi.

Depois daquela noite, a cama sempre pareceu vazia.








texto do livro Colcha de Retalhos

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

(sem título)

o passado é molecula que não existe

influxo de pensamento irreal

um espírito que se perdeu

átomos infundados


o amor que não correspondeu

a loucura que fora feita

os passos que foram dados

a planta que foi colhida


o passado é o vento que sopra

a ilusão que persiste

as lágrimas que escorreram, em vão

porque você é bobo, trouxa!

o passado não existe, porra!

Lugar Perfeito


Me arranque do mundo da lua!
Leve-me para qualquer parte...
Comer poeira em Marte?
Não respirar em Vênus?
Flutuar em Júpiter e Netuno?
Me perder em Urano?
Congelar em Plutão?
Enlouquecer em Saturno?
Carbonizar-me de Sol em Mercúrio?
Não!!!
Que tal criar raízes na Terra?



Imagem: "Noite estrelada" -Vincent van Gogh

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Convidado Lino Junior

Almas Enfermas


Estavam ávidos em ouvir seu chamado. Almas enfermas. Poucos sorrisos. Trabalhadores ociosos de si que adoecem por indolência. Uma disputa por saber qual dor era maior, qual merecia mais atenção. Quem era mais merecedor. Toca em meu braço. Um rosto lívido pedindo ajuda em silêncio. A menina que já é mulher repousa suas dores no ombro da mãe que aflita, move freneticamente os pés nas sandálias esfarrapadas.
Para o senhor encanecido que dedica-se à adoecer já se tornou ponto de encontro. Alheia-se à vida. Aproxima-se do berço de descanso. O céu tonitruante avisa. Aqui dentro a criança tonitruante implora. Dentro de mim silenciosamente chove. Os dias têm sido nublados. O cheiro de chuva entorpece. Sua voz se confunde com os trovões. Ela chama mas ninguém responde. Todos se manifestam em revolta. O ar é denso. É difícil respirar. O mundo está adoecendo rápido demais. As pessoas estão morrendo desonestamente. Roubam-lhe o tempo. Não é mais agradável viver. Dói. Estamos insensíveis à dor, do outro.
As condições são precárias. Não há cordialidade. Ninguém se importa. Só estou cumprindo meu trabalho. Chegou minha vez. Estou sangrando. De dentro pra fora. Sou mais um a querer viver.  Mais uma fila. Mais uma espera. Ainda não é minha vez de morrer. Tenho que aguardar. A fila é morosa. A morte é fugaz.
Gratuitamente me sorriu complacente. Visivelmente doente. Há luzes de natal. Há cores. Há gente. Há uma Eugênia, mas não existe eugenia. Olhos feridos. Pernas quebradas. Outras permanentemente imóveis.
Mais um andar. Os degraus são cruéis. Chove desafiadoramente em estigma de desagravação. Estou pior do que imaginava. Pior do que quando cheguei. Ninguém me falou. Ainda não fui atendido. Mas sinto. As crianças  choram ignorando o aviso de silêncio na parede. A dor não sabe ler.
Como um fruto no topo da árvore, as palavras estão fora do meu alcance. Maria da Dores nasceu destinada à sofrer. O céu é impiedoso. Meus pensamentos incomodam.
Há dias chuvosos em que precisamos viver. Deixar tudo de lado e viver. Gostaria de dizer o indizível com a máquina de escrever. Há segredos meus que ainda não posso revelar. A chuva parou. O bebê  e eu bocejamos. Sou atendido e volto pra casa ao lado do povo que clama dignidade, reclama a deslealdade de seus líderes que impunemente tiram daqueles que nada podem ou sabem fazer, para esfregar em nossa cara a desigualdade em que vivemos. O povo que paga, em hospitais públicos de baixa qualidade. Os líderes que recebem, nos seus hospitais luxuosos. Quando se sente na pele, dói mais a injustiça que a enfermidade física.

---



Lino Junior


-

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A Ilusionista

(Imagem da Lagoa da Maraponga. Arquivo de Imagens Ibi Tupi.
Fotografia de Daniel Roman. Direitos autorais preservados.)

A Ilusionista.
Caminhávamos
Eu e minha saudade,
Que ilusionista é ela
Fez-me parecer que as coisas
Foram melhores
Do que realmente eram.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

It's Summertime, Lord



- senhor,
mil perdões.

sei que nesses
últimos dias
te tenho
negligenciado,

mas é que
em dias quentes assim,

é melhor louvar
o ar condicionado.

André Espínola

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ser de água

Somos todos seres de água e da água e, apesar disso, não sabemos cuidar de nossa essência, fonte de toda vida do planeta.


tenho na mente
a memória da água
que me criou
que me lavou
que me saciou

tenho na mente
a água com qual me unges
e a com que te inundo e fecundo
a água que me purifica
circula-me o ar
verdeja-me os olhos
azula meus mares

é essa
a memória
que eu queria levar
às nuvens
antes de chover
como tantas e tantas vezes
para poder escorrer puro
de novo
e de novo
e de novo
até secar
de vez

(Celso Mendes)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O pedido



ELE está em um bar.
ELA chega.

ELE: Tava preocupado.
ELA: Desculpa o atraso.
ELE: Não tem problema. Acabei de chegar.
ELA: Trouxe os papéis?
ELE: Tão aqui.

Silêncio.

ELA: Vi sua irmã ontem.
ELE: Mesmo?
ELA: Disse que a gente não devia.
ELE: Ela devia cuidar da vida dela.
ELA: Também pensei isso.

Silêncio.
Desconforto.

ELE: É fácil olhar de fora.
ELA: Mas, fiquei pensando no que ela me disse. Talvez ela tenha razão.
ELE: Olha, não me confunde mais. Por favor.
ELA: Pede pra mim.
ELE: O quê?
ELA: Pede alguma coisa.
ELE: Não. Não vamos começar isso de novo.
ELA: Pede alguma coisa ao garçom.
ELE: Ah.
ELA: Tô com fome.
ELE: O que você vai querer?
ELA: Uma taça de vinho.
ELE: Tinto.
ELA: Isso.
ELE: Merlot.
ELA: Exato.

Ele fala com uma voz grave. Imita o pai dela.

ELE: Isso me custou muito caro, sabiam? Mas, o que é o dinheiro, quando estamos falando da vontade da minha menina, não é mesmo? Vocês viram o vestido dela? Mandei aquele viadinho do costureiro comprar o melhor tecido que tivesse na Europa!

Ela imita a voz grave do pai.

ELA: Viram o relógio do noivo? Eu que dei! Aquele lá carrega um apartamento no pulso, graças a mim!
ELE: E o buffet?

O pai estava muito animado. Orgulhoso até.

ELA: Por mim, eu tinha mandado matar logo uns cinco ou seis bois, uns cabritos, uns dois porcos. Não gosto dessas frescuras de rodelinha de pão com negocinho em cima, não, de torradinha com pastinha. Eu queria mesmo era um puta churrasco! Mas, a mulher diz que não é de bom tom, que não é chique, não é mesmo?
ELE: O seu pai é uma figura.
ELA: Pede logo.
ELE: Tudo bem.
ELA: Pede pra eu ficar.


Loucura na fila (DBS)


Tinha tudo para ser um dia comum, eu não lembro se era terça ou sexta nem que dia exato da semana, mas lembro dos detalhes importantes. A fila, a famosa fila, democrática, injusta, dinâmica, bom, pense como quiser, mas essa foi muito louca.
Eu tenho um amigo que nasceu no mesmo dia que eu, Carlão. Não exatamente no mesmo dia, mas no mesmo dia 13 de janeiro, mas em anos diferentes, mas bom, a história começa com ele porque ele me chamou para almoçar naquele dia. Aquela coisa de amigo de trabalho que o cara chega e fala:
- E aí, vamos comer onde hoje?
- Qualquer lugar, desde que não seja coisa verde! – eu disse.
Naquela época eu não estava de dieta, então eu queria era uma picanha com queijo derretido, mas isso também não é importante agora, importante é que ele disse:
- Vamos no meu carro e você pode ver o som novo da máquina.
Carlão tinha um excelente gosto por carros e filmes, naquela época ele tinha um Ômega, um carrão, mas o consumo era quase um filho por mês.
Ao entrar no carro, lá veio o golpe do Carlão, sabe aqueles amigos que querem fazer tudo junto? Nada contra, mas não na hora do almoço! Ele fez a indecente proposta de dar uma passadinha rápida no banco. Passadinha rápida no banco? No banco? Na hora do almoço? Pensei comigo:
- Queira Deus que seja algo no terminal eletrônico.
Ele completou dizendo que tinha que pagar só uma continha. Só? Imaginei logo umas 84 pessoas na frente e umas 3 horas de fila. Nem o chefe ia gostar daquele almoço!
Eu não tinha muito mais escolha, já estava dentro do Ômega.
Então lá fomos nós para o banco e eu reclamando com o Carlão:
- Você é um amigão, hein! Me chama pra pagar boleto na hora do almoço na fila do banco! Quero que você morra!!!!
E ele rindo, sabendo da sacanagem e dizendo:
- Para de reclamar, aproveita o passeio!
- Passeio? Seu babaca! – respondi ‘feliz’.
Chegamos no banco e o local para o pagamento era em uma fila no subsolo. Ao chegar lá nos deparamos com duas filas, uma para pagamento de até 3 boletos e a outra para pagamentos de qualquer quantidade de boletos. Acho que a estratégia era para evitar colocar na mesma fila aqueles funcionários de empresas que abrem uma bolsa e mostram para o caixa 438 boletos e a fila fica 2 horas esperando só por ele...
Para tentar agilizar, Carlão foi para uma fila e eu fui para a outra. Fiquei na fila de até 3 boletos.
Na minha fila tinha mais ou menos umas 13 pessoas, na fila do Carlão umas 45...
Na fila do Carlão o atendimento era feito por 5 caixas e na minha só por um e o próximo a ser atendido ficava parado atrás daquela fita amarela no chão, pra evitar que o próximo ficasse ‘babando’ atrás de quem estava sendo atendido.
Todo mundo conhece no Brasil aquele jeitinho de guardar lugar na fila, porque as filas demoram tanto que o cara precisa ir no banheiro, lanchar, sei lá, fazer alguma coisa ou até dar uma de espertinho indo fazer outra coisa de menor importância e deixar o próximo na fila ‘guardando’ o lugar para ele até ele voltar. Já vi fila de 3 pessoas virar fila de 9 em 3 segundos entrando gente no meio que estava com lugar guardado. É dose!
Bom, lá estava Carlão na fila, agora com umas 60 pessoas e eu na filinha menor que não andava e eu ainda era o último. Já estava lá fazia uns 15 minutos.
De repente, chegou um cara com um capacete na cabeça como se fosse uma viseira, meio apressadinho e deu uma olhada pra fila rápido e depois pra mim, apontou para minha frente e disse:
- Oi, com licença, eu estava aqui nesse lugar!!!
Por um momento, eu tive uma certa paralisia enquanto meu cérebro tentava processar aquilo. Eu pensava:
- Hein, o cara estava nesse lugar! Quando? Estou aqui faz 15 minutos e ninguém a mais na fila nem nada de andar e ninguém atrás de mim.
Resolvi falar com o cara, às vezes, ele queria o lugar onde estava propriamente, e não o lugar na fila.
- Como é? – perguntei para ele. Você estava aqui nesse lugar? Quando? Cheguei aqui faz 15 minutos!
- Eu sei, mas o lugar foi guardado para mim! – disse o homem-capacete-viseira.
- Guardado pra você??? Por quem?
Olhei para o cara na minha frente na fila e ele também com cara de espanto não disse nada.
- Acho que você estava aqui faz muito tempo, meu amigo, agora fica aqui atrás de mim que estamos todos na fila. – falei para o homem-capacete.
Todo mundo olhava a cena sem falar nada, igual papo de estranho em elevador, ou seja, mudo e silêncio total.
Nisso, uma voz lá da frente da fila disse assim:
- Mas que mal educado, o cara estava na fila! Que absurdo!
Eu pensei de novo dentro da minha cabeça:
- Hã? Eu, mal educado? O cara chega depois de 15 minutos e quer o meu lugar na fila e ninguém nem guardou o lugar para ele. Não pode!
Aí eu disse:
- Amigo, a fila está aqui faz tempo, ele chegou agora e perdeu o lugar, infelizmente tem que entrar na fila de novo, não tem lugar marcado assim.
O cara lá da frente da fila começou a querer arrumar uma confusão defendendo o homem-capacete.
Nisso, eu disse então:
- Ora, então dê seu lugar na fila para ele!
O cara lá da frente não gostou da ideia e continuou reclamando, até que ele propôs que o homem-capacete entrasse na frente dele. Só que aí eu falei:
- Não, aí não fica legal não, pois está entrando na minha frente também e também na frente de cada um da fila.
Nisso, uma das pessoas da fila ouvindo o quase bate-boca, falou olhando pro lado e meio que escondendo a boca:
- Assim fica difícil!
Tive vontade de rir, mas estava mais preocupado com a invasão da fila pelo homem-capacete.
A coisa começou a ficar tensa um pouco e nisso, o Carlão, que até agora não tinha falado nada, deu um grito lá da outra fila:
- O meu amigo!!! Pega seu lugar na fila e para de criar confusão!!!
O pessoal na fila e os funcionários do banco sentiram o clima de certa tensão e ficou todo mundo quieto um pouco. Até que o cara da frente da minha fila falou de novo:
- Outro mal educado!
Nisso, Carlão gritou de novo:
- E você aí, fica quieto senão vou aí pegar seu lugar na fila e te dar um pau!
Carlão não era muito grande, mas tinha um certo porte e tinha uma cara feia pra caralho quando ficava bravo, além de uma voz de trovão.
O cara da frente da fila sentiu que a coisa não ia dar muito certo e ficou quieto e olhando pra frente.
Os seguranças do banco se mexeram e mudaram de lugar, eles sentiram algo tenso demais.
Por uns 3 minutos o homem-capacete ficou queito perto de mim sem saber se entrava na fila atrás de mim ou se ia embora.
Depois de mais uns 2 minutos, o homem-capacete fez uns gestos meio como se tivesse esquecido algo e saiu do banco.
A fila andava, estava segura!
O cara da frente foi atendido e foi embora, eu estava ainda com 3 pessoas na minha frente.
Carlão tinha umas 10 pessoas na frente dele ainda.
Mais uns 5 minutos e eu tinha só uma pessoa na minha frente e Carlão umas 3.
Pela lei de Murphy, pelo jeito, não ia adiantar nada os dois na fila, elas iam demorar o mesmo tempo.
De repente, de novo, uma senhora já velhinha aparentando uns 70 anos chegou perto de mim na fila e disse:
- Ei, eu estava aqui!
Meu Deus, o que era aquilo? Um pesadelo? Pegadinha do Faustão?
O pessoal da fila começou a rir, ninguém acreditava naquilo.
Eu fiquei de queixo caído por uns 30 segundos. A velhinha me olhando, a fila rindo, eu ali faltando uma pessoa para ser atendido, 30 minutos de almoço jogados fora. Quase briga na fila, e agora, uma velhinha quer roubar meu lugar! O que eu fiz para merecer isso?
Respirei fundo e disse para ela:
- Minha senhora, eu já passei por muita coisa esquisita na vida e hoje nessa fila, mas eu sinceramente queria saber como é que a senhora poderia estar aqui se eu estou aqui faz 30 minutos, umas 10 pessoas já foram atendidas e a senhora chega agora e diz que estava aqui! A senhora estava aqui quando? Ontem? Semana passada? Essa fila compra lugar e eu não estou sabendo!?
A velhinha ficou meio constrangida e o pessoal da fila começou a fazer piada.
- Ei, fica aqui no meu lugar que volto mês que vem! Fica aqui que vou ali dormir e já volto. Fica aqui que vou ver a Sessão da Tarde e volto depois do café! – fazia graça o pessoal.
Eu fiquei com pena da senhora e disse para ela que poderia ficar na minha frente sim, pois eu era mais jovem que ela e poderia esperar mais, mas que ela entraria na frente de todos também. Apesar de ter uma fila específica para idosos no andar de cima.
Ela fez uma cara de frustrada, como se o lugar fosse mesmo dela, mas foi embora também.
Depois de uns 40 minutos de almoço e pegadinhas na fila, eu era o próximo, estava ali, logo atrás da tal linha amarela.
Olhei para o lado e Carlão tinha acabado de ser chamado para ser atendido em um dos caixas.
Bom, então eu não precisava mais ficar na fila.... depois de lutar tanto por aquele lugar...
Olhei para o pessoal da fila, que não sabia da estratégia de ficarmos nas duas filas, dei um passo para o lado e saí da fila e disse:
- Ok, cansei de brincar, boa tarde para vocês!
E sai do banco para almoçar, finalmente!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Convidado Almandrade

 Poemas
                       
A mão escuta
o papel
toca a letra
um corpo
vaza o desenho
a boca resume
o traço
pássaros
cachoeiras
um bordado
que imita
a virtude e a transparência
das águas.

-

O tema ronda
a lógica
invade
a língua
disparidades
não faz
insiste
inquebrável
ao menos
não diz
a razão
é um pensamento
sem saída.

-

Fronteiras
que se repetem
ciclo limite
exaltação
atropelos
um fim
de século
ao meio-dia
circunstancial
inédito só
as pernas do sol.

---

Almandrade
--

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

HOJE É DIA DE MARIA

CARTA PARA MINHA FILHA

Meu tempo já passou
É cíclico
E vai voltar
E daí...
Já fiz de tudo nessa vida
E vou fazer
De novo
E muito
Mas agora é a vez da pequena
Vou abdicar de coisas
Acredito no bem da pirralha
Vou premeditar tudo
Calcular
E mesmo assim, eu vou errar.
Mas vou errar, porque é humano, não por negligencia.
Amanhã
Ou depois
É outro dia
Hoje é dia de Maria


Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

tic tac tic tac




quando cheguei naquele ocaso

por acaso atrás do tempo, do siso

um vento torto encapetou minhas velas

bem naquela hora que dizem ser mágica

afoguei-me nos teus olhos



vim para acalmar tempestades

alisar os mares em que cismas

soprar a neblina dos sofismas

não fiz nada.

Assim, sem querer, morri.



era quase noite

nuvens magenta se arrastavam

minha nau aportava em teus olhos insones

tu chamaste e eu corri

desastrada tropecei

e caímos enredados

abraçados nas promessas



tantas!

doidas!

imensas!



queria salvar-te e soçobrei

danem-se! Minhas culpas e intenções enfermas.



era tão tarde, ninguém viu

a mãe terra seguiu girando em seu fuso

gamos-rei vagueavam órfãos

vagávamos também atrás do tempo, tempo que vinha

tempo que foi sem ter sido



tic tac tic tac



beijávamos dias a fio

enfastiados dessa tarde inteira

desse acaso sem fim

fechávamos os olhos mudos

fugíamos da luz

driblávamos a escuridão



a lua escorregava sem pressa

e chegava quando dormias

perdido e desabado na noite que caía

sorrias dentro dos espelhos



avessa e cansada entrevia futuros

visagens inúteis



morri nos teus olhos numa tarde qualquer

beijei teu sorriso que o breu comia

ele partiu-se

cacos de riso tilintam pelos cantos

guardados na antessala vazia



a luz respinga em mim

pinta negrumes dissonantes

poemas rendados na pele nua

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Gato Mau



Era uma vez um gato. Um gato mau. Além de mau, mal-humorado. Ficava fulo quando alguém dizia: "olha, que gatinho bonitinho!" "Gatinho bonitinho é o caralho!" - dizia, balouçando o pênis. Um belo dia, uma bela jovem o viu na via e se apaixonou enlouquecidamente pelo bichano. "Bichano é o puto do seu pai!" Ops, desculpe-me. ...e se apaixonou perdidamente pelo felino. Mas ele, bruto que só, nada quis com a pobre moça. "Moça o cacete! Vou mostrar a vocês do que é capaz uma mulher apaixonada. Esse gato há de ser meu!" Cabeleireiro, manicure, banho de loja, batom vermelho, perfume de feromônios e uma lata de sardinha como plano B. Funcionou. Os vizinhos não dormiram aquela madrugada, tamanho o alarido produzido pelos amantes. Pela manhã, cara amassada, remelenta, a mulher arrasta o corpo dolorido para casa. Após o banho, o inexorável espelho. Vê olhos fundos em órbitas fundas envoltas por fundas olheiras. Ao fitar as pernas, depara-se com sulcos esbranquiçados e sinuosos, lembranças de uma noite animal que jamais desapareceriam e seriam transmitidas aos seus descendentes que, por sua vez, repassariam aos seus. Muitos anos depois, um homem chamado especialista poria uns nomes feios e esquisitos naquela coisa feia e esquisita, cuja simples pronúncia do designativo mais simples faria estremecer até a dama mais recatada: hidrolipodistrofia ginóide, dermatopaniculopatia edemato-fibroesclerótica ou, simplesmente, celulite.

Carlos Cruz - 13/07/2010


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Camisetas Bar do Escritor


Poisé, como das outras vezes, estou fazendo camisetas da nova antologia do Bar do Escritor. Graças ao excelente trabalho feito pelo Carlos Henrique Neri, esta ficará um primor de camiseta.

Disponível nas cores branca e preta, tamanhos P,M,G e GG. Quem estiver interessado pode enviar um e-mail para mim cmpneto@bol.com.br. O preço é somente 30 reais (menos a GG que é 35 reais) e, com mais R$ 15,00, pode levar junto o novo livro (lembrando que o lançamento nacional do mesmo, conforme o anúncio abaixo, é dia 03 de março de 2012. Um pouquinho antes do fim do mundo... Então, vamos encarar o fim dos tempos vestindo algo legal?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Exposição de Arte Contemporânea, em Guaranhuns


A Galeria Zero Dois estreia na próxima quarta-feira (15) uma Exposição coletiva de Arte Contemporânea. Participando desta, os artistas Clovis Teodorico (Garanhuns-PE); José Godoy (Garanhuns-PE); Pedro Sérgio (Garanhuns-PE); Marcelo Celso Figueiredo (Olinda-PE); Sindri Mendes, artista amazonense que reside em La Plata/Argentina, onde cursa belas artes.

A mostra também dará espaço para a arte da escritora Larissa Marques, goiana de Itumbiara e residente em Sobradinho (DF). Ela também é editora e artista plástica. Autora dos livros Entre o negro e o nada, Infernos Íntimos e O oco e o homem, já editados; e os inéditos: Sob o olhar de Cecília, O Ciclo dos Símios, Carta a Kerouace Trilogia da Ilusão.

A Exposição ficará em cartaz até o dia 31 de março, de terça a sábado, das 14h às 21h. A galeria abrirá durante o Garanhuns Jazz Festival e fica localizada na Rua XV de Novembro, 288, Centro, Garanhuns. (De fronte à Academia de Letras de Garanhuns).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Separação de Corpos


Eu, camiseta, calcinha
e meia amarela,

Le(n)do Ivo
- destesto novelas -

Ele, cueca samba canção,

apenas um pênis
que não mais me apetece
e assiste ESPN.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Diálogo entre Phineas Freak e o adulto Carlos Eduardo Vargas, o Richie Rich.

Baseado na boca de Phineas, Richie acende um cigarro.
- você não sabe que maconha tá errada. - diz Richie.
- o erro é um conceito nem sempre certo.
- é proibida.
- suicídio também é.
- faz mal.
- igual tabaco.
- a droga só serve para disfarçar seu vazio interior.
- não é melhor que comprar coisas que não quer para ficar bonito para gente que não gosta, ou fingir ser algo que não admira para conquistar um status que não importa? - Traga, prende, solta.
- mas a droga é contra a lei.
- o que é a lei senão a imposição do grupo dominante?
Richie apaga o cigarro e pega o baseado. Olha ao redor, desconfiado.
- maconha tá errada, não dá lucro. - Traga, prende, solta.
- o que é o lucro senão a demonstração do egoísmo humano?
- bom, esse, hein?! -  Traga, prende, solta. - sem lucro, eu deixaria de ser rico.
- ah, Carlinhos, se vai filar do meu beque, chega de tentar se justificar.
- é que às vezes dá vergonha.
Traga, prende, solta.


---
Phineas Freak é um dos Fabulous Furry Freak Brothers, de Gilbert Shelton, e Richie Rich, o Riquinho, é um personagem da Harvey Comics.