quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trova da saudade

A saudade causa dano,
nas imagens da memória.
Um detalhe vira engano,
passe um dia ou passe um ano,
e aí já vira história...
Tuas imagens, de tão belas,
luto para não perdê-las.
E pra não ficar sem elas
vou além destas janelas:
toda noite colho estrelas!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

se eu escrevesse

colocaria aqui no papel um pouco do que tenho sentido. ficaria para a eternidade, compartilharia com amigos e desconhecidos. talvez escrevesse de maneira que até eu compreendesse, ou talvez ajudasse alguém a entender sentimentos-irmãos.

se eu escrevesse, estaria mais perto de compor um conto brilhante! ou quem sabe, num futuro mais próximo, esse conto participasse de um livro. se eu escrevesse, poderia escrever um livro. também faria com que outras pessoas soubessem de tanto que fica escondido nos bom dia, boa tarde e boa noite dos nossos dias, tardes, noites. se eu escrevesse, talvez inventasse uma palavra que ninguém jamais ouviu; quem sabe, talvez, até mesmo uma metáfora inteira nova, uma letra de música, uma onomatopéia brilhante, rapagabum. se eu escrevesse, poderia entender melhor porque meu peito aperta, minha cabeça dói, e às vezes meu ombro pesa. talvez até meu intestino trabalhasse melhor, seria minha escrita capaz de tanto? a dor ficaria bonita, do dia sairia poesia, a alegria causaria riso. os leitores talvez até imaginariam meu perfil, mais bonito que o real, enquanto mirava para baixo, pensativa. será?

se eu escrevesse, você leria, e a gente talvez se entenderia. será?

domingo, 27 de novembro de 2011

Sugestões de leitura

Venho aqui sugerir alguns textos para leitura em meu blog, o Prosas e Viagens:

Guerras: poesia visual. http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/Poesia%20visual

Profissional liberal: um miniconto sobre prostituição.http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/minicontos

José Alencar: herói ou homem comum. Uma crônica que pode ser adaptada para o ex-presidente Lula e outros famosos. http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/Cr%C3%B4nicas

Museu da Cidade e Espaço Lúcio Costa: para quem quer conhecer um pouco mais de Brasília. http://prosaseviagens.blogspot.com/search/label/Turismo%3A%20Bras%C3%ADlia

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Você é uma pessoa carente!


As redes sociais têm uma peculiaridade: O desabafo. As pessoas não precisam de muita intimidade umas com as outras, elas simplesmente, falam! Na verdade, elas precisam desabafar.

A dinâmica social [real] não permite que tanta gente esteja junta se confraternizando o tempo todo, é humanamente impossível. Por tanto a rede faz esse papel, até mesmo nos embalos de sábado à noite.

Eu mesma já andei desabafando para pessoas que só conheço virtualmente. Mesmo indiretamente, muitos que estão navegando, usam pensamentos de escritores, poetas e filósofos para ilustrar seus sentimentos.

Essa forma visceral de se comunicar, é o reflexo da carência - o mal do século. Sim.  Você é uma pessoa carente! Você quer preencher uma falta, seja qual for, ela existe. 

Todos que estão plugados têm um objetivo e fazem de tudo para atingir. Ora, quem não é visto, não é lembrado.Aqueles que não estão aqui são auto-suficientes, supremos, equilibrados, elas não precisam disso! 

Enquanto não houver novas atividades para se fazer – para preencher esse vazio, continuaremos conectados, e não adianta resistir em não aceitar sua carência, você não consegue mais viver sem isso, é uma necessidade.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Lançamento e Vendas - Colcha de Retalhos


Você está convidado para o lançamento do livro:

Colcha de Retalhos
Rodrigo Domit


     O  evento será realizado no dia 04 de Dezembro de 2011, das 14h30 às 17h, no Bar das Quengas - Av. Mem de Sá, número 175 - esquina com Washington Luiz, Rio de Janeiro - RJ.

     O "Colcha de Retalhos" foi finalista do Prêmio SESC (2008) e foi vencedor do Prêmio Utopia (2010). A obra reúne 73 textos curtos e, apesar da predominância maciça dos contos, escapa em alguns momentos para a poesia e para a crônica. A obra está sendo lançada pela Utopia Editora - com projeto gráfico da ilustradora Laís Brevilheri - e quem quiser levar um exemplar para casa desembolsará a quantia de R$10,00.

Conto com a sua presença!


Clique na imagem para ampliar



Venda Online:

Cada exemplar custa R$10,00, o frete é gratuito para todo o Brasil* e são aceitas as seguintes formas de pagamento:

Deposito bancário - Cartão de crédito (à vista sem taxa ou parcelado com taxa de 1,99% a.m.) - Débito online - Boleto bancário (taxa de R$1,00)
*Promoção válida até o dia 04/12.





segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cores Vivas







No silêncio azul
Cores vivas deslizam
Num mar de peixes









Imagem da net: Escher, Limite circular III (1958).

Ultimo post

O INCONFORMISMO

Lito acordou cedo e foi até a cozinha, se serviu de café e passou requeijão no pão. Comeu, bebeu, tomou refrigerante e foi ao banheiro. Fez suas necessidades fisiológicas, escovou os dentes, se olhou ao espelho e lavou as mãos. Cuidou dos lábios que estavam rachados por tanta bebida vencida que havia tomado, passando uma pomada específica. Caminhou até fora de casa e ficou observando a serra, sentado à escadaria de entrada. Sua vida se reduz a poucas coisas, numa cidade sem muita razão de ser. A casa se localiza no nada, em meio a lugar algum. Só se vê um monte de grama envolta onde pastam as vacas, e a tal serra ao lado direito onde há uma gruta com cachoeira e de onde saltam de pára-glaiden. Há um mês que vive assim. Conseguiu emprego numa fábrica de tijolos ecológicos à beira de uma estrada, mas nem por isso veria problema se o seu coração parasse de bater.
Sua mulher o abandonou. Desde então não transa com mais ninguém. Além de sua mulher, sua mãe o expulsou de casa. Ele não sente muito por ter saído da casa da mãe, afinal de contas, de uma maneira ou de outra eles não tinham mesmo muito em comum, mas sente muito pela ex-mulher. Lito é um gênio, mas poucos sabem disso, sendo assim mesmo como funciona. Um verdadeiro poeta sul-americano dos tempos modernos que encontrou numa mulher tudo o que precisava e, não tivesse sido uns desvarios, ainda estariam juntos. Lito se levanta e entra pra dentro de casa, pega o telefone e põe-se a teclar os números. Alguém atende:
“Alô”
“Escuta aqui, cara, o negócio é o seguinte: vocês tão recebendo essa porra toda? Eu não vou ficar aqui escrevendo esse monte de coisas sem saber o que irá se suceder! Alemão, sinto muito!... Chamem do que quiser: “vaquinha magra do conformismo” coisa e tal, a verdade é que a gente gostava mesmo e eu ainda tenho leite pra tirar dela! Entendeu?!”
“Quem é que tá falando?”

“Você sabe quem é que tá falando, cara, não me venha se rogar de santo!”
“Porra, não fode a vida. A gente achou que você tava numa nice. E quanto àquela atendente?”

“Ah, agora essa?! Aquilo foi em caráter lúdico, qualquer um saberia! E avisa aí, avisa aí que eu quero a minha vaca magra de volta, senão eu não vou escrever mais porra nenhuma pra essa merda, tá me ouvindo?!... Passar bem!”
E bateu o telefone. Lito é o tipo de gênio que às vezes se deixa levar pela ira. Não que ele seja de má índole, mas é o fato de, acima de tudo, ser o tipo de gênio incompreendido, como a maioria dos gênios são. De um modo ele desabafara, agora. Foi até os fundos da casa onde há uma edícula. Entrou na edícula, ligou o som, serviu-se de um Curaçau Blue e se pôs a preparar um baseado. Isso o irá fazer ficar mais calmo, um pouco. Estacionou o copo na mesa e o cigarro num cinzeiro. Entrou no quartinho do fundo onde há o retrato da imagem de uma semideusa a quem confia e, num gesto ritualístico, prestou reverência pedindo que a trouxesse de volta.
O caso foi o seguinte: confiscaram-lhe a vaca. Supostamente estaria doente e contagiava um rebanho vizinho. A vaca era muito querida por ele e, embora magra, dava-lhe o suficiente. Mandou dezenas de cartas para a corregedoria, mas até agora nada. É a ex-mulher, é a vaca, tudo o torna depressivo. Voltou e bebeu o drinque. Acendeu o baseado e serviu-se com mais Curaçau, contemplando as garrafas. Ah, minha vaquinha sagrada, pensou consigo. Ele sabe que as chances são pequenas sem a sua amiga que tanto adora. Acomodou-se em uma cadeira à beira do jardim e sentiu o sol. Um rosto triste, então, pitou o cigarro... e bebeu o drinque. Não demorou muito até sorrir. Lito as vezes se lembra de coisas, e põe-se a rir sozinho mesmo.
(Escrito por Bobby, brother do Lito – em seu fantástico mundo)

domingo, 20 de novembro de 2011

Convidado Lourenço Dutra


Esperança vermelha
Para Vladimir Carvalho



Prédios e sonhos erguidos em meio ao ermo.
Acampamento cheio, improvisado. Ritmo de cidade em
construção. Babel nacional: maranhenses, goianos, mineiros, paraibanos,
pernambucanos, paraenses, gaúchos, piauienses, paulistanos.
Todos explorados, calejados, esperançosos.
A capital da esperança acelerando na velocidade de jipes,
rurais, decavês, gordinis. Eldorado da poeira, da arquitetura futurista,
e do concreto armado. Terra vermelha. Espécie de solidão
corrosiva, de luta contra o nada.
Tratores, patrols, de esteira, retroescavadeiras. Todos americanos,
como o dinheiro emprestado para tocar o projeto. Matéria
humana genuinamente nacional. Gente pobre, calejada, sofrida.
Armações de ferro por todos os lados. Toneladas infindas de
cimento, tubulações e brita. Areia branca, rosa, saibrosa. Mistura
rápida nas betoneiras. Candangos correm de um lado ao outro no
canteiro sem flores, sem plantas, sem verde. Canteiro sim, mas
de obras. Muito suor, muita terra vermelha revolvida, espalhada.
Obras para todos os lados. Fatigantes, massacrantes, exaustivas.
Rodízio de trabalhadores em turnos de 12 horas ininterruptas.
Obra 24 horas no ar, nas pernas e nas mãos. Operários sem
preparo e sem equipamentos despencam nos ares. Do Congresso,
dos blocos, dos ministérios. Gente sonolenta, cansada, mal alimentada.
Arquétipos de prédios e instituições que não param.
Lá embaixo, gente preparada para sumir com corpos, com
gente, com mortos esfacelados. Lá em cima, gente treinada para
abafar a mídia, driblar jornais, revistas, e os críticos mais acirrados.
Dizem que alguns jazem entre paredes, gente misturada ao
cimento e à brita dos palácios. Candangos desaparecidos antes
mesmo da ditadura. Conterrâneos meus, seus, nossos. Conterrâneos
velhos de exploração e de sofrimento. Conterrâneos velhos
de guerra.


---

Lourenço Dutra

sábado, 19 de novembro de 2011

Hoje.


(Imagem: Google).

Hoje.

Nada demais
apenas quero sua boca
taça ao meu fluir
amor.
E que seja
o amanhã
um vinhedo
de volúpias.

Eliane Alcântara.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Na cidade dos anjos



Na minha breve
visita,
para além das nuvens,
à cidade dos anjos,

parece improvável
haver lá embaixo
sangue, morte
e seres humanos.

André Espínola

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Academia vai ao Bar... na Feira!



O Bar do Escritor recepciona a Academia de Letras de Brasília e a Academia de Letras de Taguatinga no stand 79 da 30ª Feira do Livro de Brasília.


Nos dias 11 a 20 de novembro, no ExpoBrasília, estaremos lançando e autografando livros dos membros das academias e do BdE. A lista dos participantes e a agenda podem ser encontrados no site da feira, aqui.


Nosso stand está bastante movimentado, a proposta é mais cultural que mercadológica: queremos aumentar o congraçamento entre os escritores entre si e com o público em geral.


No stand oferecemos uma deliciosa cachacinha de barril e um gostoso bate papo sobre literatura e afins, informando sobre os livros dos participantes, formas de publicação e eventos de literatura. Também divulgamos o Selo BdE, que publica livros de literatura com o devido padrão artístico e a necessária divulgação direcionada. 


No blog do Cristiano Deveras há fotos e suas impressões sobre a feira. No site Literatura em Debate há entrevistas do jornalista Anand Rao com escritores do BdE e da Acleb, como o próprio Deveras, Marco Polo Haickel, Zeluis e Giovani Iemini (parte I e II).








terça-feira, 15 de novembro de 2011

Vago

um poema gelado
de palavras mudas.
um verso solto, sem abrigo,
o zunido do silêncio
que se quer luz.
a busca, sim a busca.
uma lógica de vidro,
frágil, cortante, invisível, quebrável,
e as folhas de uma canção distante
a soprar-me os pés.
a companhia dos sonhos sugere que estou vivo.
um cão; há calor.
percorro o teclado,
roço olhos em cristal líquido,
renego os sentidos.
e as letras insistem
num significado
que não sei lhes dar.

(Celso Mendes)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Convidado Daniel Delgado Queissada

 Antirreflexo

 
Memórias rasgadas
Aparentemente apagadas
Tinta bruta permanente
Permanentemente afiada

Sangra o que não deve
Porém, o que não se percebe
É o gosto...gostoso
De quem gosta do desgosto

De quem sente o assombro
De tudo que não lhe convém
Quando na melhor companhia
A solidão lhe cai bem

Memórias anuviadas
Pela tinta que dimana
E mancha a marcha do tempo
Que devagar flui como um rio...sedento

Sangria desenfreada
Sanguessugas da alma
Das almas penadas que somos nós
Sozinhos em nossos lençóis

Espelho meu abdica desta farsa
E só reflita o que for verdadeiro
Sem truques, caras e bocas  
Apenas a face hermética...ainda presa no cativeiro

Antirreflexo da felicidade
Que não suporta o fim...start da vaidade
Mesmo não entendendo
Que o mesmo está ao lado de cada início inesperado
 
---

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Chama e topázio

É sobre o silêncio
a compostura, o prumo
e o enveredar pra vida
sem a regalia
de aferir o rumo.

E sobre a soltura
o lastro, o cimo a iguaria
preferida, o temperar
constante infindo,
que é Sabedoria.

Então eu me aproximo!
E o mais me escapa
entre o valor da paciência
e a humildade que encapa
na clarividência.

Algo sobre o orgulho,
o ermo, o menosprezo
alheio, e o limite; a poda,
o feio, a parte deformada
e o todo enfermo.

É sobre micro, macro
universos implodidos,
meditação, despojo
e os versos e reversos
escandidos.

É sobre saber, intuição,
o estômago e a fome;
sobre o digerir,
a gestação, o âmago
e o meu nome.

Sobretudo a compostura!
O zelo! A pálpebra
e a claridade, ser e estar,
a estrutura e o lar
o universal e o particular

Salienta o silêncio,
o som, a poesia, a fervura,
o caldeirão, a temperança ,
a ira, o ritual, a dádiva
e a bruxaria.

É sobre um tudo,
e um nada que resulta
da ruminância
e o regurgitar sonoro
de uma alma estulta.

É sobre o legado
o descompasso, a prece
a messe, o entremeio;
sublimação, e o passeio
deste a outro estado.


Sim, é a eternidade,
o bem, o belo, o bom,
o ambíguo e a palavra,
o amplo e o exíguo,
receptáculo e larva.

Einstein e relatividade!

É. Quando um anjo adeja
há vórtices, derramamento,
e entrevê-se a trama,
o fio, a fortuna, o rodízio

O anjo passa
E a graça lampeja
chama e topázio

  nos olhos da moça

PEDRO e a RUIVA



PEDRO
e a RUIVA

Baixo Gávea
Agito da noite
Aglomeração
Burburinho
Pessoas passando pra lá, pra cá.
Na rua
Pedro e Léu discutiam sobre fidelidade feminina
Uma RUIVA passou linda
Olhou Pedro, decisiva, falou.
- Está dizendo que eu sou feia
Com um leve sorriso no rosto, Pedro rebateu.
- Bonitinha. Nunca diria o contrário. Quem é você?
Ele Pegou a mão dela
Ela esquivou dizendo
- Odeio bonitinha
Seguiu bufando na direção do banheiro do Bar Hipódromo
Pedro e Léu riram
Voltaram a conversar descrições da fidelidade feminina
Chope após chope
Outras mulheres vieram a Pedro
Pedro não comeu ninguém
Dia seguinte
Lá estava Pedro
Batendo seu ponto no Baixo Gávea
Mesma noite carioca
Mesmo Bar Hipódromo
Conversava chope adentro com amigos
Assunto
Vaidade feminina em relação à vulgaridade
Ou seja
Julgando a vida
Opondo a ela valores pretensamente superiores
Medindo-a por eles
Impondo limites
Condenando-a como diria Nietzsche
Conversando chope a chope
Pedro saiu para dar uma volta
Encostou-se a um carro na frente do bar
Espreguiçou-se
Bocejou
Alongou-se
Eis surgir novamente
Em sua frente
A RUIVA
Toda de preto
Uma saia justa
Gostosa
Foi direta
- Sabia que você é uma gracinha
Pedro devolveu o elogio
- Você também é uma gracinha
Com a bebezura de uma ninfeta embriagada
Auge dos dezessete aninhos
A RUIVA falou sensualmente com cheiro de leite
- Eu sei que eu sou bonita. Todo mundo quer me comer. Eu só dei pra dois.
Momento
Melhor acreditar ouvindo
Pedro entrou no jogo, um sonoro.
- Pôôôôôôôô!
A RUIVA instigando-o com diretas
- Você me excita
Sorriso safado no rosto de Pedro
- É. Bom. Você também me excita.
Puxou-a pela cintura, tentando beijá-la.
Ela vira cara, esquiva-se do beijo.
Sem o sorriso no rosto, Pedro puto, gritou.
- Porra! Não tô te entendendo.
A RUIVA, fitando os olhos e a boca de Pedro, sem sair de seu abraço, explicou.
- Eu tenho namorado
Depois de um dialogo tão surreal e interessante, Pedro insistiu.
- Vamos dar uma volta. Só conversar.
Embriagadamente, ela concorda com uma condição.
- Você bebe uma cachaça comigo?
Sorriso de volta ao rosto, sabendo ter ganhado, respondeu.
- Eu não bebo cachaça. Pago para vê-la bebendo.
A RUIVA o pegou pela mão
Passou pela aglomeração
Levou-o ao balcão
Pedro comprou a cachaça, dizendo.
- Vamos nessa!
Sem outras palavras
Subiram a Rua dos Oitis
A RUIVA na frente
Seguida de perto por Pedro, olhando a marca da pequena calcinha.
Direção, um canto distante.
A essa altura, Pedro não continha a vontade de amassá-la.
Paudurescência
Encostou-se a um carro da rua escura, não completamente deserta.
Passava às vezes um casal, ou outro grupo de pessoas caminhando para pegar seus carros.
Alheio a tudo isso, Pedro a puxou pela cintura novamente.
A RUIVA deixou
Beijaram-se
Amassaram-se a valer
Entre um beijo e outro, A RUIVA coloca seu copo no teto do carro.
Frases malucas
- Quantas você já comeu?
Pedro não acreditou estar ouvindo aquilo, respondeu rindo.
- Algumas. Que diferença faz. Vem cá. Vem.
Pronto
A pequena RUIVA não se continha
Aceitava toda a bolinação
Sussurrava palavras desconexas
- Você quer me comer? Quer meter a pica na minha bucetinha? Na minha boca? Quer? Quer?
Mãos enterradas na bunda da bela RUIVA
Pedro ansiosamente grita
- Quero sim. Quero muito.
A RUIVA não parava de falar absurdos
- Você sabe que é bom. Que é gostoso.
Pedro ainda com as mãos enterradas na bunda dela, esbravejou.
- Sei de nada. Você está dizendo.
A RUIVA insistia em falar frases fora de hora
- Aposto que as mulheres vivem dizendo isso pra você
Irritado, mas ainda com as mãos enterradas na bunda dela, Pedro foi decisivo.
- Para com isso menina. Porra. Vem cá. Vem!
Não adiantou
A bela menina continuou
- Eu nunca dei o cuzinho. Só dois comeram a minha bucetinha. Você tá me deixando tesuda. Me come aqui. Vai. Me come.
Encostados no carro
Meio da rua
Não fez diferença
Pedro a virou de costas
Bruscamente
Brutamente a empurrando contra o carro
Por trás, levantou sua saia.
Chegou a calcinha pro lado
De uma só vez
Penetrou a ali mesmo
Foi então
O pior
Na penetração
A menina desfaleceu, antes do fim do ato.
Pedro não bombeou nem cinco vezes na bucetinha apertada
Apavorado
Pegou-a nos braços
Botou a em cima do capô do carro que encostados segundos antes se amassavam
Pedro bateu em sua cara para acordá-la
Nada
Impulso
Pensou "Será que ela morreu?"
Muito nervoso botou a mão em seu peito
Não sentiu o coração
Nada
Estava Pedro ali parado
Apavorado com a possível morte da pequena
Não sabia por quê
Sentia-se responsável por aquela possível morte
Neste instante
Um carro em alta velocidade entra pela rua
Pedro jogou-se na frente do carro
Seu corpo morto foi projetado pra frente
Rolou, no meio da rua.
Com o barulho da freada
Impacto
Várias pessoas vieram correndo ver o acontecido
O motorista imóvel ao volante do carro amassado, cheio de sangue.
O corpo de Pedro, morto, todo quebrado, no chão.
Pessoas horrorizadas comentando
Um zunzunzum
No capo do outro carro, a aparente morta levantou-se, pegou sua cachaça no teto e saiu andando na direção contrária alheia a toda aquela confusão.

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

terça-feira, 8 de novembro de 2011

sarraceno perdido


a noite cai sem cuidado
a lua pesa sobre nuvens
enquanto me desfaço

o sorriso desaba num canto
e eu me arrasto
na alquimia dos desastres

a malha dessa armadura
sempre desfia
quando todos ficam do outro lado da porta

a espada quieta e queda
a armadura esgarçada
as asas quebradas

eu sei

é só fechar os olhos
e ouvir a canção


em que recitas todos os pecados
grandes e pequenas máculas
numa fila estupenda

a tua sombra guardada
a garganta embargada

eu sei. eu sempre sei.
é só fechar os olhos e
ouvir a canção
aquela ária sem fim
 
 
 
 
Imagem:

"The Embrace" by Scott James Prebble

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

escarlata

escarlata





mientras todos los sueños
se van con el viento
y con las hojas rojizas
que parecen reír de tonterías
arrastradas con el polvo

ella está allí convicta
imaginando que nada podrá
quitar la lujuria de sus ojos
que miran la amplitud horizontal
de un tiempo tan ido, tan ido

pobre princesa rubra
contempla estática su imagen
espejada en mil rostros falsos
que carcajean entre sí
y ella jura que es amor

quería volver a la inocencia
que había antes del viento
arrancarme las hojas
antes de las tempestades
llevaren gajos y ámbar

rica princesa rubra
contempla estática su imagen
espejada en mil rostros de sí
y carcajea entre imágenes
y ella sabe que es amor.


(arte visual de Sindri Mendes e tradução de Carlos Cruz)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Exilada de Nêmesis

Ela tem uns olhos desbocados,
onde nadam peixes de outras eras.
Traz neles medos cambrianos
e a ambição desenfreada das moneras.

Esse abismo recoberto de folhagens,
quando abre em armadilha
para o tempo, os bandolins, as aves,
num silêncio precedente de desastres.

Essa força incontrolável,
quando encontra um alvo
a gente logo sente o vórtice,
anticiclone fundo e sem barulho.

É como um deus imenso
tomando fôlego antes do mergulho.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Poesia

Ontem, na Bienal do B - Poesia na Rua, no T-bone, eu vendia uns livrinhos quando escutei de rabeira:
- chegamos! são todos escritores. vê esse bigodudo aí.
um moleque duns dez anos projetou-se na minha frente, quase no meu colo.
- vc é escritor?
- é...
- vc é famoso?
- só pras minhas ex-mulheres.
ele franziu o cenho, seu pai riu.
- qual a vantagem?
- evita ressaca.
ele emburrou, o pai escancarava um sorriso. eu queria falar outra gracinha pro moleque, tirar sarro de sabichão, mas como explicar as incertezas da literatura, a volatilidade das mulheres, a irrefreabilidade do sexo e as vicissitudes da bebida a um virgem sóbrio mancebo?
- tome. leia.
a poesia nunca havia feito tanto sentido.