quinta-feira, 30 de junho de 2011

Convidado Rubén Vedovaldi (Ar)

PÁJARO DEL VINO
 
en medio del patio
soplaba la flauta
los parches latían
al ardor del canto

y amor era algo
que soltaba dulce
silencio de pájaro

la arena se amaba
con manos de niños
que alzaban cohetes
puentes y castillos

y vos derramaste
tu efímero sueño
de vino encendido
en medio del patio
la luna apoyaba

sus pies delicados
en alada danza
y yo deshojaba
las alas del sueño
por mis ojos de agua.


---
Rubén Vedovaldi

* Grabado en el Disco Compacto: CUANDO LA PALABRA CANTA, con el músico Carlos Medrano, en ARGENTINA, otoño de 1999.

domingo, 26 de junho de 2011

Tempo

passo
pelo presente
como quem sente
o passado
passando

apresso
a ânsia
da vivência

atraso
a incerteza
do porvir

deixo
no eixo
da memória
a lágrima
do que se foi
cair

quarta-feira, 22 de junho de 2011


Passou o dedo pela cabeceira e mostrou para a garotinha deitada na cama ao lado:
- Olha essa sujeira, minha filha, isso aqui está uma vergonha!
- Mas não fui eu que sujei.
- Foi você sim; Está aqui no seu quarto.
- Mas...
- Nada de “mas”! Ainda hoje você pega um paninho e limpa. Quando eu voltar, quero ver isso aqui brilhando.
A garotinha, ainda deitada na cama, refletiu sobre o pó em cima da cabeceira e sua relação de culpa em relação ao pó.
Quando a mãe voltou, a cabeceira ainda estava toda empoei­rada. Ao notar a sujeira - ainda a pairar por ali, ela logo cobrou da filha:
- Por que é que a cabeceira continua cheia de pó?
Com um ar de saber só de experiências feito, a garotinha respondeu, até com certo desprezo:
- Não adianta limpar. Vai sujar de novo. É pó de gente.



segunda-feira, 20 de junho de 2011

Convidado Robson Batt

Desinência

Desperto com sono
Desligo o alarme
Desnudo o pijama
Despido no banho
Desenho você no vapor do espelho
Desjejum com café
Descafeinado
Desloco o pé
Despencando da escada
Desfilo trôpego
Desanimado
Desvio do tráfego
Desfoco a dor
Desejo um táxi ou uma carona
Desabo no chão
Descubro um café
Desses meio parisienses
Descanso sentado
Descabelado e choroso
Decido ligar e te ouvir
Desmentir novamente
- Desposar...
- Deslize...
- Desleal!
- Desonesta!
Desligo de súbito
Desaforado
Desnorteado
Desolado
Desonrado
- Destilado duplo!
Despejo tudo de uma vez
Desopilo o fígado
Desafogo com a moça ao lado
Desabafo tudo
Desocupo a cabeça
Desobrigo do trabalho
Desabrocho meus olhares para ela
Deslumbrante
Descasada
Desimpedida
Descubro afinidades
Desconcerto, desconcertado
Desembaraçado a convido
Desavergonhada ela aceita
Desinibidos saímos
Desabotoamos
Desgrenhamos
Desfrutamos
Desmaiamos
Desfecho:
- Desforra!

---
Robson Batt é cineasta e empresário.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Círculos

Deitava o vento com a boca amordaçada. O seu silêncio era imposição dos girassóis que refletiam-lhe os braços, as mãos e seus dedos amarelecidos. Mascava o sol dia pós dia, desconfiado, e se sentia cada vez mais enraizado. Gostava do azul das manhãs e do laranja das auroras. O marinho da noite o embriagava. Mantinha, secretamente, olhos de nadar estrelas. A lua costumava tocar suavemente suas costas até que adormecesse. Após isso era a o medo da treva, era atrás dos astros, era depois dos sonhos. Se houvera luz, não se lembraria. Mas o tempo sempre lhe foi muito orbital. Não entendia por que as coisas tinham essa mania de orbitar. Retas, pois sim, retas eram apenas uma eterna ilusão de caminhos; nunca levaram a um novo ponto. E foi assim que, mais uma vez, o sol se desprendeu do seu bocejo, preguiçosamente. Ainda não era a hora da escuridão.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Jogo Enfadonho

Trocamos vários sorrisos e olhares
flertando à distância pela parede de vidro
que nos une e separa,
então rabiscamos em nossas cabeças
um enigma sobre quem realmente
somos e o que viveremos.

Movemos peças num xadrez
interpretando personagens
como numa peça teatral,
trajando máscaras e capas
num baile onde os outros
são apenas bonecos.

Entrei em seu jogo enfadonho
então você embaralha as cartas,
eu as corto, aposto minhas fichas
e até blefo para quebrar sua banca.

Não temo o que a vida nos reserva
mas resta saber se você tem coragem
de se despir dessa armadura
para me encarar.

- Mensageiro Obscuro.
Maio/2011. 

Foto: "The Wish" de Theodor Von Holst, 1841.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Convidada Raissa Diniz

Sol cheio

Começava a noite
Quando amiudava o dia
Bem depois de clareada a tarde
O céu azul não estava
Mas eu lhe respirava em poesia

Raios penetrantes
Solares, anuviantes
Sabia descrever o que visível o horizonte permitia
Conceber em prosa, quiçá uma melodia
Daquelas que não se pensa nunca que sabia

De relance olhei a janela
Por ela, transpassando o vidro dela
Podia ver telhas, arbustros, flores, folhas
Mais janelas
Não às casas
As janelas eu via

Vênus como raras vezes a vi
Estava sim nitidamente bela
E aquele satélite deveras funcinante
Cadê?
Quero ver sim a Marte

Circundado, circundante
Melhor que bola presa no volante

Estufa, borbulha
Gás inoxidante

Caneta, pernas, alou, papel
Verde, laranja
Jerimum, xilito a granel
Queria em Tupi-guarani
Escrever pr'alguéns entender
O qunato eu amo alguém
sem realmente lhe tocar, lhe ver

A busca e a incerteza
Decisões contrárias entre si
Coberto, nuvens de véus
Sinônimas, não uma da outra
Noreante
Incompleto?
CineCryDin a todo instante

SEMPRE



---

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O escafandro e a borboleta


era bem tarde quando bateu na escotilha
o mar era profundo e vasto

eu vestia meu traje e fugia
hermeticamente refugiado
nas lembranças suaves

pessoas ,sentimentos,coisas,olhares
distantes e extintos
perdido nesse mar

meus olhos de escafandrista vagueiam
enquanto as asas dela se debatem
trazendo sopros ávaros

desejo de tornar a ver ou possuir
o passado que não volta

borboleteava na janela
hermética
mas não existe mais

MINHOCAS GERERENCES


MINHOCAS GERERENCES

Imagine
BR – 116
Rodovia Presidente Dutra
A Via Dutra
Plantão de vinte e quatro horas
Três guaritas com sete pessoas cada
As guaritas são como os pedágios
Cabines de Fiscalização
Substituição Tributária
ICMS
Verificar Nota Fiscal de carga de caminhão
Conferir o destinatário
Ver se paga o devido imposto
Simplificando
CARIMBAR NOTA!

Das sete pessoas de cada cabine, quatro mulheres.
Três cabines
Doze mulheres por plantão
A cidade
Itatiaia
Em frente ao Parque Nacional
Às Agulhas Negras

Nesse misto de analfabetos existenciais em caminhões de fumaça enfileirados esperando a vez de passar com seus barulhentos infernais pelas cabines de Fiscalização, a vista do Parque Nacional é a salvação.
Visconde de Mauá
warum nicht
Depois de trabalhar no estilo Modern Times, de Charlie Chaplin, vinte quatro horas seguidas carimbando notas e respirando monóxido de carbono...

Vem...

O Paraíso!
Setenta e duas horas pra curtir o bem querer
Sim
Entre um plantão e outro
Tínhamos merecido três dias de descanso
Muitas vezes fui gozá-los em Visconde de Mauá

Dia
Maconha
Poção
Escorrega
Santa Clara

Noite
Maromba
Cerveja
Sinuca
Buceta

Eu e Marcelo éramos os únicos de fora da região
Dos vinte um plantonistas nas guaritas
Éramos os dois cariocas
Todo grau pejorativo
Cariocas Clássicos!

Rapidamente conheci Gererê
Gererê é uma cidade que margeia a Via Dutra
Cidade da região
Pra mim, Gererê é região!
Bem como
Resende
Volta Redonda
Penedo
Itatiaia
É óbvio!
Pra Sra. Geografia, solenemente, Gererê é corretamente e tão somente uma cidade da região.
Respeito a Sra. Geografia!
Enfim

Gererê! Uma praça! Duas ruas!

Em Gererê conheci Alessandra
Nesta vez, estávamos eu, Marcelo, Oiran e Henrique.
Bebíamos, jogando sinuca na birosca de uma das duas únicas ruas da cidade.
Marcelo e Oiran já eram habitués com Gererê e suas minhocas dadeiras
Falavam-me farras vívidas com promíscuas minhocas Gererences
Chegaram Carol e Lúcia
Minhocas peguetes de Marcelo e Oiran
Henrique e eu dávamos nossas tacadas
Eu acreditando em ter ido pra Mauá
Nossa Amesterdan das montanhas
Ideia muito melhor
Sobre Gererê pensava oposto
Cidade o mais provinciana possível
Moralismo exacerbado
Castu
Beatas e crentes
Mulheres com cabelos esticados para trás
Vestidas de longos rendados
Bíblias de ternos beges

Fui fumar um baseado na praça

Ao voltar à birosca, deparei com uma morena de vestido marrom.
Deliciosa!
Bunda de marquinha ínfima, desenhada no pano do vestido.
Um generoso par de seios servido à meia-taça
Passei a frente dela e disse: - Você não vai a lugar nenhum!
Minha sorte
Carol e Lúcia vieram na cobertura
Carol convidou sua conhecida morena a se apresentar
Alessandra!
Nome de linda morena
Pensei
O nome da bunda
Alessandra vinha do colégio, disse não poder ficar por causa do horário, chegando a casa depois das dez da noite, apanhava do pai.
Era melhor ter ido pra Mauá!
Alessandra olhando-me os olhos com cara de crente lasciva e voz tremulamente nervosa, diz de supetão: - Vou esperar todos dormirem lá em casa, pulo a janela, e venho te encontrar.
Pensei
Trêmula, mente!
Essa não volta mais
Entre beijos e sagradas sarradas em Carol, Marcelo dava suas tacadas.
Lúcia com Oiran não eram diferentes
Henrique, o mais bêbado.

Mesmo eu, sabendo não ser provável a volta de bela morena, não tirava meu olhar do relógio.
Vai saber...

Era uma e trinta da madrugada, em Gererê, quando Alessandra surgiu na porta da birosca com o mesmo vestido marrom. Muito gostosa!
Não quis entrar, com certeza conhecia o dono da birosca, o Seu Manel.
A essa altura, eu já conhecia o Seu Manel.
Ele, o meu dinheiro.
Alessandra falou-me: - Vamos embora daqui, eu tenho de voltar logo pra casa.
Pedi o carro pro Henrique, atônito jogou as chaves pra mim.
Entramos no carro e partimos

Seguimos por uma estrada de terra, na qual ela me direcionava por entre os bem abastados pastos burgueses.
Bendita Sra. Geografia!
Parei o carro no meio do nada
Saímos
Nada mais
Iluminados pela lua cheia
Beijamos
Ela foi botando meu pau pra fora
Chupou ávida por minha porra
Rapidamente gozei em sua boca sedenta
Ela engoliu e levantou
Meu pau não abaixou
Passei a mão em seu rabo
Ela perguntou-me: - E no cu não vai?
A virei contra o carro
Levantei a parte de baixo do vestido
Cheguei a calcinha pro lado
Meti em seu cu
Ela gritava
Rebolava
Obscena
Com poucas estocadas enchi-lhe o cu de porra
Ela se ajeitou dizendo: - Me leve daqui.
No carro, ela apontava o caminho a seguir.
Perto do nada mandou parar
Parei!
Ela me deu um beijo na boca e me disse: - Daqui eu vou andando, não quero que meu pai acorde.
Saiu do carro e andando em direção a lugar nenhum, sumiu.

Voltei pra birosca feliz da vida por ter comido tão maravilhoso cu
Chegando lá, Marcelo, Carol, Oiran, Lúcia e Henrique me esperavam sentados na calçada.
Birosca fechada
Dormimos na casa do tio da Carol, ele estava viajando e ela nos alojou lá.
Lúcia e Carol foram andando pra casa depois de misturarem suas libidos com as de Oiran e Marcelo, no mesmo quarto.
Será que fizeram um troca-troca?
Não importa
Henrique quis saber da minha aventura: - Caralho, a mulher que você pegou era sensacional!
Marcelo e Oiran berravam do quarto
Oiran: - Vai se foder seu sortudo filho de uma puta!
Marcelo: - A mulher mais gostosa da região com certeza!
Conta aí, eles pediam.
Falei: - Comi o cu, só digo isso, gozei no cuzinho dela. Delícia de rabo.
Um a um eles me invejaram
Fomos dormir, eu com ar de Deus, eles imaginando minha Deusa anal.

Dia seguinte
Dia de Plantão Fiscal
Acordei com os três me olhando
Marcelo dizia: - Cara, deu merda, o pai dela descobriu e enfiou a porrada nela.
Virei pro lado tentando voltar a dormir
Henrique falou: - Cara, é serio, fui comprar pão e a encontrei toda roxa, ela tava chorando.
Sentei na cama rindo: - Vocês acham que vou acreditar nessa historia tola, fala sério, vocês a ouviram falando ontem sobre a fuga e ficam querendo me assustar. Inveja é uma merda! Vou tomar banho pra irmos trabalhar.
Tocou a campainha
Oiran foi abrir a porta
Entra a Carol, olhando pra mim e bufando: - O pai da Alessandra bateu nela, ele tá vindo pra cá com uma peixeira, tá dizendo que vai matar o loirinho que deflorou a filha dele.
Depois de ouvir essas palavras da boca de Carol, acreditei!
Toca a campainha
De novo
Incessantemente
Oiran vai ver quem é
Volta cuspindo palavras: - É ele, só pode ser ele, um negro com uma peixeira na porta. É claro que é o pai da Alessandra.
Acreditando piamente no circo armado, peço ajuda: - E agora o que eu faço?
Oiran - Eu vou lá dizer que você já foi embora.
Marcelo - Cara, entra na mala do carro e vamos embora daqui.
Henrique - Eu vou encostar o carro perto da porta da cozinha e você entra na mala.
Pensei: “Na mala, não entro de jeito nenhum!”
Entrei!!!

Dentro da mala vejo, a tampa descendo em minha direção, ocultando toda luz.
Escuridão!
Escuto as vozes sem saber ao certo de quem são
Escuto as portas do carro batendo
Escuto o motor
O carro começa a andar
Fico sacudindo na mala
Pânico!
Começo a gritar
Claustrofobia!
Começo a bater na tampa da mala
Grito: - Eu encaro o cara, eu encaro. Tirem-me daqui, por favor, agora!
Nada!
O carro continua sacolejando
Começo a suar frio
O tempo passa
Muito tempo
Começo a chutar o fundo do carro, o banco de traz.
Meus amigos não param
Fico fora de mim
Apavorado!
O carro para
O motor desliga
Escuto risadas
A tampa abre
Um flash
Vejo Henrique com uma máquina fotográfica na mão
Eu, dentro da mala.
Muitas pessoas me olhando
Rindo
Pessoas do meu Plantão Fiscal
Meu trabalho!
Marcelo e Oiran riem adoidados
Entendo
Saio da mala
Puto!
Mando todos tomarem no cu
Saio andando pra bem longe
Continuo ouvindo gargalhada
É!
Pegaram-me direitinho
Caí como um patinho
Tudo bem
Tudo bem porra nenhuma!
Hoje... Tudo bem... Pode ser...
No dia, demorei a digerir.
Agora beleza
São todos meus amigos
Grandes amigos
Afinal de contas
Se você sobreviver aos seus amigos, sobreviverá a tudo.

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Avant Stéreo



depois do próximo outono


algumas cidades já estarão incendiadas


algumas calçadas haverão acolhido em seu colo de concreto
cadáveres dos filhos de alguém


vários jornais estamparão fotos de ilustres desconhecidos
flanando em belo e rebelde desfile


crianças aprenderão o que o gesto;
o grito silencioso, o urro,
de um punho erguido
significa


enquanto do outro lado da praça


o balé improvisado de se esquivar da morte
no dorso fúnebre
de uma avenida em marcha
e
ao seu redor,
os seus
ao redor do seus,
nós
em volta de nós;
juntos


cada
um
um
universo


venho pensando _ “pessoas são estrelas”


ultimamente
sempre que olho pro céu
acredito num certo tipo de
novo e estranho
Deus
que suspira ao redor e move o ar à sua volta






#

segunda-feira, 6 de junho de 2011

mamãezinha


à custa de esperneios ferozes, manhosas estridências e lágrimas à farta, em acre cascata, ganhei mamãezinha ou "calaboca, diabo!". irmã das outras bonecas das amigas-irmãs malvadas e ricas. ninava mamãezinha que ninava bebezinho, ninado por mim de tabela. se bem me recordo, fiquei feliz; sorri até. grata, beijei mamãe. rezei pra papai-do-céu, de joelhos no taco. impúbere, ignorava a malvadeza chamada alma. tonhão, o caseiro, mostrou-ma; disse se chamar murcia. mas isso foi antes da cirurgia. depois, enchi o novo saco enrugado: em mamãezinha tasquei um saco, duas bolinhas-de-gude vermelhas dentro de um saco de cebola, vermelho também. um salame pra arrematar. queria um parecido, mas o médico desaconselhou-me sob argumentos anti-estéticos. o salame secou e exalou mau cheiro. enchi o saco - agora não tão novo - de novo e joguei mamãezinha no saco do lixo. não gosto mais de bonecas. elas não sabem brincar.

Carlos Cruz - 10/05/2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

quando diz que já

não te olho como antes
percebe que algo nosso
se perdeu pra sempre
e já não posso mais
resgatar as pedras
do caminho sem volta

ergo-me farta desse
sentimento moribundo
que insiste em ruminar
e ruminar como se tivesse
eu dez estômagos
e não tenho

jaz como era
jaz como eu era
matei meus olhos
com lágrimas e poeira
que deixou quando me
ultrapassou pela estrada de chão
se não te olho como antes
é porque não te vejo mais.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Perseguição

Ando fazendo versos como um condenado
que foge pela floresta as vésperas do cadafalso.

Ando fazendo versos enlameados,
arranhados das quedas desesperadas por chegar.

E chegam esbaforidos, descompassados
pra descobrir, no fim de tudo
que serão expostos
e postos,
inúteis, numa espécie de altar.

Quem sabe assim esgote o poço
onde me alimento de mim,
e então me sobre um pouco.

Vou talvez roer as patas,
escapar da armadilha, transbordar o copo

pra que me deixem de vez em paz
as Musas e os poetas mortos.

*Catopeblas é um animal que se alimenta dele mesmo.
Borges o descreve em seu livro" Livro dos Seres Imaginários"
Lhosa compara o escritor ao Catopeblas.

(poema de 23/07/09, agora com vídeo da Casa das Rosas)



(antes porém, declamo o poema Alegoria, já postado em meu blog)