segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pontualidade.

Sobre o pontual,
só guardo dúvidas.

Cumpre com o tempo
um acordo preciso
que conecta a intenção ao ato,
num instante conciso.

Mas soa falso.

No ponto, não há o final.
E no final tampouco há pontualidade.

O final apenas rima com pontual.
Rima besta.

O que determina a pontualidade?
É o encontro? Em ato?
Entre pontos em um ponto?

O pontual marca o início.
Ou marca o fim?

Audacioso fim,
nunca pontual.
Exige entretanto,
o fim,
sempre, e tanto,
ponto final.

Ponto.
Marca gráfica.
Tinta de caneta.

Fim no tempo.
Tempo em fim.
Enfim, tempo.
Tempo pontual.
Não contínuo.

Tempo de mentirinha.
Não-pontual.

Galatea

imagem: Eldarko (foto trabalhada pela autora)

Perdoa-me existir
e não ser

[apesar dos sonhos e expectativas]

o que queria pra si?

Perdoa ser eu?
Perdoa não ser
a tua imaginação?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Insistentes


A cidade tenta

acobertar seus crimes


Mas os corpos na calçada

insistem em levantar-se

todas as manhãs

para lutar por mais um dia


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sambaqui






Esculpido em rochas,
No monumento das conchas,
Fragmentos humanos.



zoólito (imagem da web)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Convidado Jorge Jacinto da Silva Junior


Com você tudo mudou


Sou um horizonte perdido no infinito
Uma ave solitária inerte no ar
Sou beijo, seu breu, sou barro
Sou tudo menos amar

O amor renasceu fútil
E os olhos estão a chorar
Sou ferro, sou frio, sou fome
Sou tudo menos amar

Sentia por meu coração
Que não amava por medo de errar
Mas com você tudo mudou
Sou forte, sou vivo, sou seu.

Porque agora sei o que é amar.


---

Jorge Jacinto da Silva Junior

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Motivo


Minha alma é tão grande
E também é tão pequena
Que não sei fazer romance
E só deito no poema.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

De volta pra casa...

(Sonia Cancine)
.

Enigmas ocorrem, repentinamente!

Olhares dúbios e motivos aparentes
Fazem da gente - exultante ou desencantada
Amada ou desalmada de alma cansada.

A minha? Após o olhar terno do Mar

Respira o ar que me dá vida, de poesia
Som de ondas deslizando espumas
Esbravejam a natureza descontente.

Não consigo na calma aparente
Deixar de sentir na pele
As delicias da paz desejada e

Aquela concha que eu segurava, eu não a vejo aqui.

Cansada, mas de alma lavada
De alinho combalido pelas ondas
Chorei onde a cortina em desalinho escondia
A alma trancada, onde o tempo pára.

Após olhar o Mar...

Danço a dança das sereias
Na arte impudica dos deuses e
Deito em cima dos penhascos
- os temores ocultos -

Na brisa fresca da maresia em dias de escuridão

Transvio para além da ebriedade azul
Pergunto - o que é isso que soa ao longe?

É o vento que embala emoções e

De volta pra casa, após olhar o Mar

Volto a sorrir
- e o espírito curumim ressurge
mais uma vez -

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Lançamento de Caramelos e Almofadas

Olá!

Andava sumida do blog e da vida virtual. Mas o motivo me parece justo. E hoje, venho aqui convidar a todos para o lançamento do meu primeiro livro. Agradeço ao Bar do Escritor e a todos que bebem por lá, por serem parte da minha história!

Obrigada!






Quimera

Se eles me veem na rua
com olhar desesperado
proclamado em lágrima,
apressam-se em concluir:

- É choro de criança mimada!

E ali,
aconchegada na calçada,
meu pranto é santificado
perpetuando a crença
num mundo de caramelos
e almofadas

(Barbara Leite)

Convite para o lançamento de "Caramelos e Almofadas", de Barbara Leite


A Editora Patuá - Livros são amuletos - convida a todos para o lançamento do livro de poemas "Caramelos e Almofadas", de Barbara Leite.
O lançamento será realizado dia 01/03 - terça feira - às 19h - na loja TamTum Brasil em parceria com o Bar Seu Boteco, Rua Harmonia 343 - Vila Madalena - São Paulo - SP. A entrada para o evento é gratuita e o livro estará à venda pelo valor de R$25,00.






Por que ir?

Sobre a autora: Baiana por opção, mineira por identificação e paulistana convicta, Barbara Leite é formada em Administração de Empresas. Encontrou na produção cultural uma forma de unir administração ao amor à arte. É organizadora do Politeama - Sarau Diverso. Foi publicada em antologias, entre elas a TOC 140, organizada pela Fliporto e Mundo Mundano e os 4 Cantos do Mundo. Diz ela que é a décima esposa de Vinícius de Moraes. Há de se acreditar. Cultiva amigos, manjericão e a paz. Há de se semear. Em "Caramelos e Almofadas" jazz seu primeiro livro, há de se festejar!

Sobre o livro: Poesia e ritmo. Poesia e música – poesia é som. "Caramelos e Almofadas", deBarbara Leite, apresenta uma poeta com fortes raízes musicais. Os poemas envolvem e trazem uma atmosfera contagiante, quase um convite à dança e ao canto. Bem falou Márcio Borges, em seu prefácio ao livro: “Esta linda coleção de poemas, ora doces, ora ácidos e reflexivos, ora puramente cantáveis – e todos elaborados com grande bom gosto – com certeza irá proporcionar momentos de deleite e de reflexão ao leitor".

Sobre a Editora: Com o claro objetivo de editar gratuitamente livros de novos autores de qualidade, com excelência gráfica e, principalmente literária, a Editora Patuá - Livros são amuletos - é uma alternativa no mercado editorial brasileiro.

Sobre o local do evento: Melhor será dizer: Os locais do evento, pois o lançamento acontecerá em parceria entre a loja de almofadas e decorações Tamtum Brasil e o Bar Seu Boteco, localizado ao lado da loja. Em suas próprias palavras a TamTum Brasil é "simples, divertida e brasileira" e entre seus produtos encontram-se almofadas, futons, pufes, móveis de bambu, lanternas, objetos de cerâmica, todos decorando o lançamento de "Caramelos e Almofadas". Já o Bar Seu Boteco oferece as melhores marcas de cerveja, sempre geladas, um atendimento exemplar e uma cozinha especialista nos melhores e mais tradicionais lanches e porções.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Escrito


este lamento não tem som
pertence ao silêncio
e se compõe de inconcretudes

estes dizeres não têm forma
são ventanias
mas possuem a franqueza da rocha

se eu sangro pelas mãos
é porque os olhos já calaram
e a boca desconhece
as palavras que sinto

(Celso Mendes)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Fim de tarde


A fina garoa da tarde
se sobressai na linguagem dos corpos
ávidos por um desejo incontrolável
que incomoda o mundo,

Palavras,saliva, partículas, tudo se torna um...
Enquanto observamos o pôr -do -sol laranja e calmo
nas curvas das sombras maliciosas do toque

Gotas de sonho e suor se misturam
com a límpida água que cai do céu
que mesmo em meio a luxúria nos purifica

Nas ventanias trazida pelas tardes de verão
orgasmos sussurrados delicadamente entre nuvens
transforma o eterno em efêmero.

(Ro Primo e Alano)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Os Prazeres Solitários

Tenho tendência a me isolar, minha família por várias vezes insistia para que eu me entrosasse com gente da minha idade, mas na infância e adolescência eu não tinha interesse em contatos e julgava que meu mundo era muito distante da mentalidade do pessoal da minha faixa etária. Pensei que ser jovem era péssimo por falta de poder, prestígio, imponência, confiabilidade e tantas coisas que geralmente são alcançadas na fase adulta por algumas pessoas. Com o passar do tempo passei a encontrar pessoas interessantes que regulavam de idade comigo, então o tempo revelou que as pessoas têm um prazo de validade na minha vida. Essa entrada e saída de contatos sociais e a durabilidade das relações envolve muitos fatores e realmente os filósofos, cientistas e outros pensantes não erraram ao dizer que o comportamento humano é um enigma imenso e indecifrável. Aprendi que quando todos vão embora ou sigo meu rumo solitário só resta comigo o conteúdo desenvolvido com elas. É bom ser solitário sem raízes e grilhões que me prendam a pessoas e território, por isso amo desapegado de forma talvez mais racional, lógica, organizada e metódica em tantas realidades distorcidas e distantes do entendimento desse plano, e não sei amar de outra forma.

Amo de forma diferente, e é fundamental que a individualidade e privacidade de meu estilo de vida sejam valorizadas e respeitadas e esse é um trabalho só meu e de mais ninguém. A constância só me faz enjoar de qualquer pessoa ou lugar, é como se meu espírito fosse nômade e tudo ao meu redor precisasse ser mudado. Por mais que exista amor mútuo, é cansativo vivenciar a rotina depois de uns meses, eu certamente não sirvo para ser marido e pai e isso não é defeito, os maiores defeitos são os que nos ferem, o que fere outras pessoas pode ser mera questão interpretativa. Não consigo amar sem ter saudades, por isso considero a distância interessante e saudável para produzir assuntos para conversar quando existirem reencontros com pessoas que aprecio. Gosto de me aventurar pelos tantos mundos nos quais eu possa voltar para contar meus acontecimentos e se estiver tão próximo em todos os momentos perderei o prazer do reencontro que é um momento tão gostoso em nossa existência tão efêmera.

Para apreciar os mundos misteriosos e secretos de prazeres solitários é preciso ser introvertido, a criatividade se faz necessária para nos divertir desde que também tenhamos uma mentalidade avançada para ir além do senso comum. Esse aprofundamento pessoal de vasculhar seu próprio universo interior em busca de mistérios e segredos é tarefa árdua para poucos, muito poucos capazes de viver com o resultado de tamanha aventura. Aqueles que voltarem da caverna platônica de seu universo individual serão dotados de personalidade própria, incompreendidos por não mais estar sob o domínio do senso comum. Alguns dos prazeres solitários mais interessantes são: estudar e pesquisar sua própria personalidade conhecendo seus pontos positivos e negativos; produzir intelectualmente; desenvolver individualidade; criar convicções e limites; amar-se e respeitar-se. Dentre tantos prazeres solitários que descobri e desenvolvi esses são os maiores que conheço, mas outros introvertidos podem ter alcançado diferentes benefícios em suas jornadas íntimas.

É importante estar com a cabeça preparada para lidar com a solidão, perdas, fracassos, mortes e tantas outras coisas que colocam terror no interior de qualquer indivíduo, e se eu disser que foi e será fácil lidar com toda essa negatividade perpétua serei um hipócrita e demagogo de sangue sujo. Os sofrimentos desnecessários devem ser evitados, por outras vezes quando sábios os sofrimentos nos fazem perceber que existem dores que nos projetam para a evolução, e há quem diga que o sofrimento faz crescer, eu comprovo a veracidade dessa afirmativa, por isso não nutro esperanças. Os caminhos solitários são fascinantes, são jornadas únicas traçadas pelos interessados em explorar novos mundos dentro de si mesmos, onde realidades colidem, a paz e guerra mentais mesclam-se, realidade e fantasia convergem em interseções oníricas nas quais os filtros mentais separarão a possível veracidade e dessa forma firmamos nossa introversão capaz de nos levar e trazer de volta da zona crepuscular do fundo de nosso ser .


- Mensageiro Obscuro.
Fevereiro/2011.

Foto: Logotipo da série de TV "Além da Imaginação" (The Twilight Zone, 1953-1964) criada e apresentada por Rod Serling.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Convidado Pedro J. Bondaczuk

Como escapar do abismo

.

A vida nos impõe, em algum momento da nossa trajetória – que, a rigor, nunca sabemos qual será – circunstâncias dramáticas, não raro dolorosas, tão marcantes que chegam a decidir o rumo que iremos tomar dali por diante.

São as tais das “crises”. Temo-las, amiúde, de todos tamanhos e consequências, dependendo de como lidamos com elas. Algumas, quando se dissipam, tornam-nos mais maduros, conscientes e sábios. Conferem-nos a experiência necessária para escaparmos de outras armadilhas semelhantes, caso voltem a ocorrer. Outras... deixam-nos marcas profundas, feridas abertas ou, no mínimo, cicatrizes.

Mas sempre ocorre a crise das crises, a maior de nossas vidas, a tal decisiva, em que sentimos que se dermos um passo adiante, um único e reles passo, despencaremos no abismo e nos destruiremos. Nesses casos, como agir? Buscar ajuda? De que tipo? De quem? Até que ponto conseguiremos nos livrar dessa situação auxiliados por alguém?

Nosso instinto de preservação nos compele a fugir. Mas, para onde? Da tal da crise das crises não há fuga. Um passo precipitado, um único e reles passo, determinará nossa queda no abismo e a conseqüente destruição. O que fazer? Sentar na beira do caminho e esperar ajuda? Aguardar até que alguém nos resgate? E se ninguém nos encontrar? Qual a solução? O que fazer?

Pareço estar sendo melodramático, mas não estou. Quem já viveu um pouco mais e passou por essa experiência, sabe do que estou falando. O escritor italiano, Cesare Pavese, nos dá uma indicação de como agir: “O único modo de escapar ao abismo é observá-lo, e medi-lo, e sondá-lo e descer para dentro dele”.

Como se vê, recomendação, no mínimo, sensata. “Descer” ao fundo do abismo não é o mesmo que “cair” nele. Implica em ação consciente, pensada, medida, planejada e executada com perícia. Se chegarmos ao fundo do precipício por esse meio, dificilmente deixaremos de sair dele. Como? Da mesma forma que chegamos ao fundo. É diferente, pois, da queda, que implica em morte.

Perguntam-me, amiúde, o que acho dos tais livros de auto-ajuda, que vendem cada vez mais e fazem de seus autores gurus da modernidade. Se os encararmos como o que de fato são – e que sua própria designação já sugere – acho-os úteis, válidos e até chego a recomendá-los.

Todavia, se virmos neles solução para “todos” nossos problemas (ou sequer como “solução”), provavelmente não desceremos ao “fundo do abismo” da tal da crise das crises, por nossos próprios meios. Despencaremos no precipício

Explico. Como chamamos a esse tipo de literatura? Chamamo-la de “solucionadora de problemas”? Ou de “infalível magia para vencer na vida”? Ou de manuais para superação de “todas” as crises? Não, não, não!

Dizemos que são livros de “auto-ajuda”. Ou seja, que “podem” nos ajudar (ou não) a resolver o impasse que nos ameaça e angustia. Mas jamais solucionam sozinhos. Não há fórmulas mágicas e prontas para isso (antes houvesse). A decisão final é, e sempre será, nossa, absoluta e exclusivamente nossa e de mais ninguém.

Encarados, portanto, de maneira correta, os livros de auto-ajuda tendem a ser úteis. Pelo menos nenhum deles traz mensagens negativas, agressivas, destrutivas, suicidas e loucas. Se não tiverem sugestões válidas e funcionais para os problemas que estivermos encarando, certamente não recomendarão que venhamos a avançar cegamente em direção ao abismo, sugerindo, por exemplo, que viremos a voar por sobre ele, mesmo que não tenhamos asas.

Aconselhar os outros, sem assumir a responsabilidade pelas conseqüências dos conselhos caso estes sejam seguidos, todavia, é cômodo e fácil. Cada qual, porém, sabe de si. Conhece os próprios limites e sabe até que ponto pode ir em frente.

Vejam o caso de Cesare Pavese, por exemplo. É certo que não se tratava, rigorosamente, de um escritor de auto-ajuda. Deixou, porém, vários textos (como o que citei acima), que podem ser interpretados como tal. Se nos limitarmos a lê-las, como meros temas de reflexão, nos parecem observações bastante lúcidas, inteligentes e sensatas.

Todavia, quando se viu confrontado pela crise das crises da sua vida, o notável escritor italiano não seguiu as recomendações que deu aos outros. Não observou o abismo. Por conseqüência, não o mediu, não sondou e nem desceu dentro dele. Caiu, desastrosamente, de ponta cabeça no vazio. Sabem como Cesare Pavese morreu? Suicidou-se!



---

Pedro J. Bondaczuk



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

FICANDO MALUCO

Foto: Megan Fox

FICANDO MALUCO
uma premobservação sexocial

Vejo mulheres me vendo
Uma mais gostosa que outra
Muita mulher
Me dão mole no supermercado
Andando de bicicleta
No ônibus
No carro
Nas noitadas
Na praia
Mole
Tô dispensando mulher
Não tenho tempo pra comer todas
Elas ficam competindo
Insanas
Preciso dar um tempo dessas cadelas
Fico fodendo essas malucas
Vou ficando igual a elas
Tô querendo ficar na minha
Conseguir ficar tranquilo
Com tanta mulher dando mole
É foda!
Não tenho culpa das doidas estarem dando como loucas
Elas querem dar
É delas
Pra mim
Tá bom
Eu passo a pica
Piranhas desequilibradas
Elas chegam
Não faço esforço
Sou moeda de troca
Pra elas
Numa boa
Sou mais um
Assim funciona
Sem envolvimento
Adoro essa inversão de valores
Lido bem com isso
Só preciso entrar com a pica dura
Faço a minha parte
Não tenho decepcionado esse tipo de mulher
Quando tenho escolha
Prefiro as comprometidas
Foder a mulher dos outros é melhor
Não ligam no dia seguinte
Fodem com culpa
Eu adoro
Essas putas entram no meu carro
Vão logo mamando
Aí, eu sento a mão.
Elas adoram
Confesso
Fico impressionado
Elas aceitam tudo isso
Tem umas
Dizem gozar
Tento acreditar
Vai que é verdade
Tenho de parar de foder essas piranhas
Tô ficando maluco

Pablo Treuffar
Licença Creative Commons
Based on a work at http://www.pablotreuffar.com/.
A VERDADE É QUE EU MINTO

A VERDADE É QUE EU MINTO

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

verbo suicida



resisto ao verbo, faço-me de forte.
e as palavras caem,
tilintam pelo caos
canção feita de ecos,
dissonante, alma errante
árida,
viciada e exangue,
por onde minhas águas saem.


não discuto, pois se é de luto,
é tarde
demais para que eu chore.


elas despencam
desarvoradas e inertes,
e mesmo a flor que nasce
morre...
desabada pelo chão.


ouve
retinem sinos enferrujados!
pelo céu destroçado
de cada uma de minhas preces.


tuas palavras esfiapadas
flutuam em cacos de sorrisos,
Somes! Desapareces...
e me ficam só
sussurros em fios partidos.


e louca, tal Joana de Espanha,
danço distraída pela algaravia
e as palavras caem
espargindo os cacos
vítreos pedaços
de cada lágrima
em que refulge teu olhar
e que não ousei verter.


é tão tarde, não vê ...?


com que rimas direi
minhas palavras?
se meu verbo está mudo
pela tua boca colada à minha...?
pelo vírus que me sangra ,
pelos teus infernais remédios...
pelo que só se sente
diante do tédio
que sente cada escritor.
a dor de não fingir o que sente,
esse processo indecente
de rasgar laudas e laudas,
lançando-as aos céus.
são apenas, e tão somente
fantasmas...
kamikazes
de papel...

Rosa Cardoso

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Rio de Janeiro


Uma língua lasciva percorre as ruas do Rio de Janeiro
e varre a cidade em sopro libidinoso
um vento marítimo toca e cora as maçãs do rosto das moças
e os homens as devoram; suas carnes, em brutos pecados cotidianos

Praia do Flamengo
Rua Machado de Assis
Morro da Mangueira
Rodoviária Novo Rio
Lapa

Motoristas de ônibus fumam cigarros
Artistas da Globo me dão informações
“Chuva forte é a que vem do Cristo”Um Hotel com o nome dela
Uma rua chamada desejo

Na praia, tecer desvarios ao nascer do sol
e bater palmas ao seu poente
pois sabemos que quando a noite inicia sua dança
as feras se soltam e permanecem a espreita
e desde os pontos de ônibus aos restaurantes da moda
vai-se logo sentindo na fronte o hálito da selvageria e violência oculta
evocando suor sexo e morte
e com um sorriso irônico e despretensioso
a dor, vai afinando seu violão
a tristeza, vai esticando o couro do pandeiro
e a tragédia puxando sua cadeira na roda de samba
e assim todo dia permanece sendo somente mais um dia
na cidade do Rio de Janeiro

Já nós, em nosso caminho lento
de flaneurs, braço dado a João do Rio
fazemos de todos os dias
nosso réveillon
e eu pulo então, não somente sete
mas milhares de vezes
com meus dedos
ondas sobre seu corpo
desejando pra nós
o que sabemos ser nosso

pois
o Rio de Janeiro nos faz acreditar que a vida pode ser boa
e sobretudo, que toda poesia não vale nada

*este poema contêm citação do escritor Rafa Carvalho

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Nosso Primeiro Ménage



Olá, leitores da Revista Swing & Ménage Sex Total. Para narrar minha história, por razões óbvias, usarei nomes fictícios de pessoas e lugares.
Digamos que eu e minha esposa nos chamamos Mário e Paula. Tenho trinta anos, sou branco, 1,73m de altura, magro. Ela tem vinte e cinco anos, mas com corpinho de vinte e um: alta, loira, seios fartos com mamilos apontando para o céu, boca carnuda, olhos verdes grandes e sedutores, uma linda bundinha empinada. Um tesão! Casamo-nos jovens, ela com vinte, eu com vinte e cinco anos. Sempre curtimos muito o sexo. Transávamos quase o tempo todo: no quarto, na sala, na cozinha, no banheiro, no quarto de ferramentas, na piscina, na varanda, no carro, no elevador, na obra abandonada, no motel barato, no cinema, no estacionamento, embaixo da ponte, atrás do muro, no terreno baldio... Era sexo sem parar.
Também gostávamos muito de assistir a filmes de sacanagem, especialmente do gênero "gang-bang". Aquele monte de paus revezando-se e fodendo a atriz na boceta, no cu, na boca, esfregando em seu corpo, gozando na cara até deixá-la completamente coberta de porra era muito excitante, alimentava nossas fantasias e fazia o sexo - que já era bom - ficar ainda melhor.
O tempo passou e, em uma noite especial - completávamos um ano de casamento - após mais uma foda fenomenal, decidimos nos dar um presente: realizaríamos uma de nossas fantasias. Como não podia deixar de ser, concordamos em fazer um ménage à trois masculino: eu a compartilharia com outro homem. Passamos, então, ao processo de seleção. Entramos em vários chats de sexo, conversamos com muitos babacas que só queriam zuar com a nossa cara, adolescentes curiosos e homens desinteressantes, carentes de atrativos. Semanas depois, cansados, desanimados, achando que nunca encontraríamos o parceiro ideal, eis que surge Jorge e seu sugestivo nick: Pirocudo Comelão. Mulato, alto, trinta e oito anos, "despachado" e bom de papo, demonstrou ser experiente no tipo de sacanagem que buscávamos. Envolveu-nos. Cativou-nos. Enviou fotografias. Disse tudo o que faria com Paula que, por sua vez, ficou interessadíssima. Percebi que finalmente a putaria ia rolar.
Combinamos o encontro no Bar Bacante, localizado na zona sul de São Paulo. Na data acertada, logo pela manhã, Paula me abraçou, roçando sua bocetinha peladinha na minha perna, qual uma cadela no cio, e disse no meu ouvido com aquela voz lânguida: "É hoje, meu amor. É hoje que você vai ver sua putinha dando pra outro, gozando no pau de outro macho." Meu pau endureceu na hora. Ela, então, deu-me um gostoso beijo na boca e saiu de casa rebolando, dizendo que iria comprar "roupas especiais". Horas mais tarde, quando regressou, quis ver o que havia comprado, ela não permitiu, disse que era surpresa.
Foi o dia mais longo de minha vida, as horas custavam a passar. Paula, a todo instante, provocava-me com frases do tipo: "Você vai ver, vou ficar muito puta pra ele. Vou chupar o pau dele bem gostoso, colocá-lo inteiro na boca, vou mamar o pau dele até ele gozar. Você vai deixar eu beber a porra dele, vai, meu amor?" Eu sempre respondia que sim. "Quero dar a bundinha pra ele. Quero que você abra minha bunda e mande ele meter com força, enquanto você só olha. Vou rebolar bem gostoso com o pau dele todo dentro do meu cuzinho. Você vai gostar de ver sua putinha rebolando em outro pau, vai, meu amor?" Eu sempre respondia que sim. E assim, vagarosa e torturantemente, o dia deu lugar à noite.
Estávamos ansiosos. Ansiosos e nervosos. Afinal, era a primeira vez. Não conhecíamos o tal "Jorge Comelão", sabíamos apenas o que ele havia transmitido durante nossas conversas no MSN. Ademais, a sensação de estar fazendo algo proibido dava um quê de conspiração à porra toda. Era como se estívessemos prestes a cometer um crime, o que aumentava ainda mais o tesão. Isso fez com que eu já estivesse pronto duas horas antes das 21:00 h, o horário combinado. Paula olhou para mim, fez aquela cara de safada que eu tanto adoro e disse: "Tá ansioso, tá, meu amor? Tá doido pra ver sua putinha dando pra outro, não?" Despiu-se, pediu para eu aguardar na sala e abriu o chuveiro. Liguei a TV mas não consegui me concentrar na novela. Meu pau latejava, duro como pedra. Meia hora depois, ela me chamou: "Vem, meu amor. Vem ver sua putinha vestida para matar." Corri para o quarto e tive que me segurar para não agarrá-la e comê-la ali mesmo. Paula estava simplesmente estonteante: espartilho, meia sete oitavos, cinta-liga, luvas, uma minúscula calcinha, tudo vermelho. Quase gozei quando ela falou: "O que acha, amor? Ele vai gostar?"
Chegamos, intencionalmente, meia hora antes do combinado. Precisávamos nos certificar que o cara era o cara. Ele não sabia como éramos. Por outro lado, nós o reconheceríamos caso ele fosse realmente o homem das fotos. O bar estava bastante movimentado, a maior parte das mesas ocupadas por casais. Pedimos uma cerveja que entornamos em dois minutos. A expectativa era enorme. Dali a poucos minutos, chegaria o homem que iria comer minha amada Paula. Pedimos outra cerveja. E mais outra. Estávamos na quarta quando ele chegou. Era o cara das fotos em carne, osso e piroca. Entrou e correu a vista pelo interior do bar. Olhei Paula nos olhos e mandei a fatídica pergunta, na lata, dando-lhe a última chance de voltar atrás: "Quer desistir?" Ela fez cara de espanto e deu a resposta que eu queria ouvir: "É claro que não!" De um salto, levantei da cadeira e fiz um sinal para Jorge, que se aproximou sorridente. Apertos de mão, beijos no rosto, ele sentou-se. Muitas perguntas, histórias e cervejas depois, já parecíamos velhos amigos, conversando, bebendo e rindo muito. Em dado instante, percebi que algo acontecia, Paula estava com aquela carinha de safada que eu tanto apreciava. Deixei a chave do carro cair no chão, abaixei para pegá-las e vi o que a toalha encobria: Jorge acariciava a bocetinha de Paula com uma das mãos, por dentro da calcinha, enquanto a vadia tocava uma punheta no pau dele que já estava para fora da calça. Fiquei de cacete duro no ato e sugeri que pagássemos a conta e fôssemos para um local mais tranqüilo. Todos concordaram.
No carro, a caminho do motel, Paula e Jorge ocuparam o banco traseiro e continuaram a sacanagem, enquanto eu olhava pelo retrovisor, cheio de tesão. Ela dava-lhe uma bela chupada, a língua percorria toda a extensão do pau que era totalmente abocanhado logo em seguida. Enquanto isso, ele enfiava os dedos na boceta. Eu sabia o quanto ele devia estar gostando, Paula mamava uma pica como ninguém. E foi assim, quase explodindo de tesão, que chegamos ao motel.
Mal entramos no quarto, os dois se agarraram em um beijo ardente, as mãos dele percorrendo as costas de Paula, apertando sua bunda. Depois, Jorge passou a chupar e morder o pescoço e os seios de Paula. Ela adorava ser mordida, delirava de tesão, pedindo-lhe para morder com mais força. Eu somente olhava e me masturbava, confesso que estava adorando ver minha putinha nos braços de outro. Jorge foi descendo a língua pelo lindo corpo de Paula até chegar a bocetinha, onde deteve-se, chupando com sofreguidão. Ela gemia alto, olhava pra mim e perguntava: "Tá gostando, meu amor? Tá gostando de ver outro chupando a bocetinha da sua puta? Ele chupa gostoso! Posso gozar na língua dele, posso, meu amor?" Eu apenas meneava a cabeça afirmativamente, sem nada dizer. Faltavam-me palavras. Estava muito excitado mas também com muito ciúme. De fato, havia um conflito dentro de mim: o marido ciumento sentia-se traído, ao passo que o puto degenerado sentia o maior tesão. Os sentimentos se alternavam rapidamente. Mas, naquele momento, o tesão falava mais alto, impunha-se qual um avassalador furacão somado ao calor fluido e irresistível ejaculado em ondas por um vulcão furioso. Éramos animais, éramos bestas feras sedentas de sexo, ávidas pelo prazer essencial. Os gritos de Paula interromperam meus devaneios.
- Ah! Ah! Ah! Vou gozar! Aahh! Aaahhh! Aaaaaaahhhhh!!!.......
Paula gozava. Gozava aos berros. Gozava como uma cachorra no cio, as mãos segurando tenazmente os cabelos de Jorge, comprimindo seu rosto contra sua boceta encharcada. Os espasmos e os gemidos diminuiram paulatinamente, até cessar. Jorge, com o rosto brilhando, molhado pelos fluidos vaginais de Paula, olhou para mim e perguntou: "Posso foder a bucetinha da sua puta?" Não respondi. Havia deixado bem claro no bar que Paula daria as ordens, comandaria a foda. Ela me olhou com aquela expressão misto de súplica e safadeza e pediu com aquela voz sensual: "Deixa, amor, deixa ele foder sua putinha? Deixa?..." "Deixo!", quase gritei. Paula ficou de quatro. Jorge posicionou-se por trás, encostou a cabeça do pau na boceta e meteu tudo, de uma só vez. Paula urrou de prazer. Jorge iniciou os movimentos cadenciados de entra-e-sai, aumentando gradualmente o ritmo, enquanto Paula rebolava e gritava:
- Mete, seu filho da puta! Mete com força, porra! Fode minha buceta! Bate na minha bunda! Isso! Com força!
Olhou para mim:
- Tá gostando, amor? Tá gostando de ver sua putinha dando pra outro? Tá gostando de ver seu amorzinho rebolando em outra pica, tá?
- Estou!!! - gritei, masturbando-me freneticamente, o pau latejando de tão duro.
- Posso gozar no pau dele, posso, amor? Ele mete gostoso, sabia? O pau dele é uma delícia! Quer que eu goze no pau dele, quer?
- Quero! Goza, porra! Goza gostoso, sua puta! Goza!
- Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Aahh! Aaahhh! Aaaahhhh! Aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh!!!.......
- Uh! Uh! Uh! Uh! Uh! Uh! Uuhh! Uuuhhh! Uuuuhhhh! Uuuuuuuuuhhhhhhhhh!!!.......
O cara gozou junto com ela, encheu a camisinha de porra. Paula, então, surpreendeu-me: retirou o preservativo do pau de Jorge, olhou para mim e perguntou: "Posso esfregar a porra dele no rosto, amor?" Eu não acreditava que ela fosse fazer aquilo. Decidi pagar para ver: "Pode". Paula deitou-se, espremeu a camisinha sobre o rosto, derramando a porra toda. Depois, esfregou na cara e lambeu os dedos. "Hum...Que delícia." Não resisti. Em outras circunstâncias, provavelmente eu sentiria nojo. Mas ali, naquele momento, mais uma vez o tesão falou mais alto: lasquei um beijo na boca de Paula, toda lambuzada da porra de Jorge. Depois, meti com força em sua boceta. Bastaram poucas metidas para eu gozar, um gozo farto, forte, delicioso.
Demos um tempo, bebemos algumas cervejas, conversamos banalidades e fomos tomar banho, os três. Foi a deixa para a putaria recomeçar. Eu e Jorge disputávamos o belo corpo de Paula com nossas mãos, línguas e dentes. Ora eu a beijava e Jorge mordia seu pescoço e ombros, ora Jorge chupava seus seios enquanto eu lambia suas costas. Descemos. Lambi sua boceta e Jorge seu cuzinho. Dávamos linguadas frenéticas, Paula novamente gritava de prazer. Sem nos secar, voltamos para a cama. Ela esfregava vigorosamente a boceta melada na cara de Jorge e chupava meu pau, saborosamente. À certa altura, langorosa, fez outro pedido inegável: "Amor, quero dar a bundinha pra ele. Lambe meu cuzinho, deixa ele bem lubrificadinho pra ele meter, deixa?" E lá fui eu. Ela de quatro, abri sua gostosa bunda com as mãos e lambi. Lambi, lambi, lambi, até deixar seu apertado anelzinho bem lubrificado. Então, cavalheirescamente, ainda separando as nádegas dela com as mãos, fiz o convite: "Vem cara, vem meter no cuzinho dessa puta! Ela está doida pra te dar o cuzinho, faz tempo. Arromba ela!" Jorge não se fez de rogado: encostou a cabeça da piroca no cu de Paula e foi empurrando, enquanto eu observava, de perto, o pau dele ir sumindo, sumindo, até desaparecer. Paula mexia os quadris alucinadamente, rebolava com gosto. Mais gritos:
- Mete com força! Mete, caralho! Fode meu cu! Fode! Enfia tudo bem fundo! Arromba ele! Mete na sua puta!
E Jorge, segurando as ancas de Paula, metia sem dó, produzindo aquele ruído de carne batendo em carne que misturava-se aos urros de Paula. Súbito, aconteceu algo que eu não esperava: os gemidos de Paula foram aumentando de intensidade, prenunciando o orgasmo. Mas não podia ser! Ela nunca havia gozado dando a bundinha para mim! Não, isso não! O ciúme voltou à toda, veemente e impetuoso. Meu coração disparou, o sangue subiu todo pra cabeça, comecei a tremer, meu corpo parecia estar em chamas, minha boca ficou seca. Ela não ia fazer aquilo comigo, não havíamos combinado aquilo, ela não podia! Fui até onde estavam minhas roupas e peguei minha pistola 765 que havia escondido sob elas. Os dois, compenetrados que estavam, não perceberam meu movimento. Ela já não me olhava, não me provocava, eu não estava mais ali. O fogo em meu rosto foi aumentando concomitantemente aos gemidos de Paula, até que... ela gozou! Aliás, eles gozaram! Gozaram juntos, um orgasmo como eu nunca havia visto igual, um orgasmo que ela nunca havia tido comigo. Mirei a nuca de Paula e atirei. O projétil lançou sua cabeça para o lado, mas não o corpo, Jorge a segurava firme pelos quadris. Ele, por sua vez, deu um salto para trás, caindo no chão, de costas. Que cena patética! Rastejou até a parede, como um rato assustado, enquanto eu o acompanhava com o cano da arma. Dois tiros. No peito. Terminava, assim, naquele suntuoso quarto de motel, nossa primeira experiência no fantástico mundo das fantasias sexuais. Sei que explicações são dispensáveis, mas para que a história não pareça também uma fantasia, fornecê-las-ei: usei pistola com silenciador, alterei as placas do carro antes de sair de casa e ninguém viu nossa cara no motel. O difícil mesmo foi colocá-los no carro, deixar Jorge Pirocudo Comelão no valão e guardar minha adorada putinha numa das gavetas do IML, onde exerço o cargo de legista-chefe. Mas, felizmente, deu tudo certo.
Apesar de haver sido uma experiência inesquecível e muito agradável, passaram-se quatro anos sem que tocássemos no assunto. Acho que ela ficou brava devido à minha broxada no final da foda. Agora, não sei bem o porquê, o desejo voltou. Talvez seja aquele negro alto que esteve em meu local de trabalho para reconhecer um corpo. Tenho certeza que vi Paula estremecer quando viu o homenzarrão. Ela está cada vez mais linda, ainda que pareça um pouco fria.
Bem, aqueles que estiverem a fim de sexo "caliente" e descompromissado e não tiverem medo de realizar as suas e as nossas fantasias, mandem um e-mail para casalsexyliberal@uauau.com.br. Negros, dotados e grupos de homens são bem-vindos.

Carlos Cruz - 29/03/2008

* História livremente inspirada nos tais "relatos dos leitores", encontrados aos milhares em revistas e sites eróticos. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas terá sido mera coincidência.

* Desenho de Auguste Rodin.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Miguel é uma mensagem

Miguel é uma mensagem

Será fim de trégua
maroto Querubim
aviltares outra vez
o teu Trono na poesia
suscetível ao incêndio
É implícita a cortesia
na aquiescência
às Dominações do silêncio

Uma mulher talvez despreze
talvez estraçalhe à unha
mas a minha alcunha
é uma Potência
que não se acomoda
em definições de Virtude
ou vício

Meu verso é um Principado
cuja soberania te concedo
Se não tens amor
deixa-o vago e branco
resguardado na saudade
que não se sabe

Aceita o arranjo que me cala
o que me custa
mas a vida não é justa
nem tem bula ou atenuante
Só poupa-me à ira
que macula este semblante
e apaga a lembrança
de ser teu Anjo

Iriene Borges

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CLUBE(S) DOS CANALHAS


"Não peço, imediatamente por nenhum governo,
mas imediatamente desejo um governo melhor"
Henry David Thoreau – A Desobediência Civil

“Vai chegar de madrugada e ela vai querer saber / onde foi, aonde esteve, o que foi fazer”... Esses são os versos iniciais de um dos maiores sucessos da banda carioca Matanza. A letra é uma espécie de manual para os cafajestes de plantão se darem bem com a vida dupla que levam.
Mas, observando à fundo outras partes da música, percebe-se que cai como uma luva para os nossos queridos e diletos representantes políticos. Senão vejamos:
“...Mas à todas as perguntas sabe responder / tem um plano A e tem um plano B”... Quem acompanha o mínimo do noticiário político sabe o quanto algumas declarações dos envolvidos em diversos episódios grotescos dentro do establishment são estapafúrdias: de ambulâncias superfaturadas a dinheiro na cueca, muita coisa teve que ser (mal) explicada. Basta lembrar de uma das várias CPI´s pizzaiolas que tivemos, o interrogado limitou-se a repetir mecanicamente “não tenho nada a declarar” a cada uma das perguntas. Mais de uma dezena de vezes.
“Se você nunca se contradiz / não abre mão do que te faz feliz...” A bem da verdade, algumas contradições são até benéficas para os depoentes, afinal, como diriam lá pelos idos de 30 (em uma Alemanha totalmente diferente da atual):“Uma mentira contada várias vezes acaba por tornar-se verdade”. É o lema da nossa geração política.
“Se nada abala a tua paz / já nasceu sabendo como é que se faz / e tudo segue do jeito que sempre quis...” A partir do momento que o cidadão brasileiro decide na política nacional, o faz primariamente para satisfação pessoal, nem tanto para contribuição coletiva e crescimento da sociedade como um todo, é levar a expressão “tivesse lá também roubava” ao pé da letra! Sendo assim, ao ingressar nos certames políticos, já o faz de caso (e conchavos) pensado.
“Temos mais um sócio no Clube dos Canalhas...” Esta deveria ser, em suma, a recepção a qualquer novo membro de partido político nacional, pois nenhuma das siglas se salva da titanomaquia que grassa a vida pública: há espoliadores do tesouro nacional à esquerda, direita, centro, abaixo ou acima de tudo quanto é cenário político. Nenhuma das agremiações pode se dar ao luxo de dizer que pode “atirar a primeira pedra”; o próprio telhado de vidro impede a ação.
Há de continuar assim, enquanto os partidos não forem co-responsáveis pelas ações de seus afiliados. Deve-se adicionar que quando a dita ação é boa, como a construção de algum bem comum, o partido faz questão de se alinhar ao lado do candidato da hora, o político que estava na hora certa e no local exato para colher os louros da vitória conquistada com o empenho de todos (via impostos pagos pela população, alheia ao direito de receber em obras aquilo que paga em tributos). No entanto, quando é o caso de se pegar o mesmo elemento (o político) com a mão na botija pública, o partido até que tenta defender o meliante, conquanto a coisa não comece a ‘feder’ acima do habitual ou naqueles casos raros onde não há habeas corpus suficientes para livrar o dito cujo das grades. Aí expulsa-se o aloprado (para usar uma expressão recente) com a condição do mesmo não dar com a língua nos dentes nem entregar um número de companheiros acima do permitido. E segue a vida como se nada houvesse acontecido.
Nossos partidos são, de mamando à caducando, conjuntos vazios de moral e repletos de erros. Pode-se ingressar sem qualquer preocupação latente com o passado cível ou criminal, na maior das caras duras. Do contrário não haveria tantos parlamentares com listagens quilométricas de processos correndo em estado quase vegetativo nas várias instancias do justiça-jabuti-tupiniquim.
“E não aceitamos que apontem nossas falhas...” É o desejo de qualquer Estado em estado de apodrecimento moral: controlar o que se diz ou que se pensa dele. Controle de sua imagem e semelhança, como se fosse um deus da consciência coletiva ou o ídolo das massas. Coisa que qualquer governo totalitário rapidamente se emprenha em conseguir, para o bem de seus próprios propósitos. Viu-se a luz amarelar neste quesito recentemente quando o TSE, por meio da resolução 23.191/2009, proibiu o uso do humor que “degrade ou ridicularize candidato, partido ou coligação”. Oras, os que deveriam se precaver disso seriam justamente os candidatos, partidos ou coligações, não se metendo em situações que se assemelhem a qualquer ato que degrade ou ridicularize eles próprios. Então, como qualificar de outra coisa que senão hilária a prisão de um elemento com dinheiro na cueca? A coisa só não é mais cômica pela seriedade que é o desvio do erário.
“...queremos tudo isso que a vida tem de bom”... Segundo o Transparência Brasil, o Congresso Brasileiro é o mais caro em um conjunto de sete países, sendo que quatro deles são de primeiro mundo, como Estados Unidos e Inglaterra. Além dos altos valores de seus vencimentos (incluindo-se aí, juntamente com os salários, algumas gratificações como auxílio terno, telefone e moradia), alguns mimos como as verbas de gabinete, passagens, representação, além de dois subsídios: um no começo e outro no fim do ano que correspondem efetivamente a um 14º e 15º salários. Uma bocada nada desprezível, se fosse só este o dano das traças públicas (os elevados gastos que a máquina corporativa demanda), até que seria um pequeno preço para os bolsos da nação, o pior é que ainda inventam de aumentar seus rendimentos com relações espúrias com o dinheiro dos outros. E dá-lhe corrupção porque já que o bem é público, a todos pertence.
“Farra, prá tudo é um bom remédio...” Que o digam as farras das passagens, do patrimônio da União, da utilização de veículos por parentes, amigos e até animais. O trem da alegria nunca pode parar.
“...Só um idiota completo morre de tédio / queremos tudo isso que a vida tem de bom...” Há quase cem anos um dos maiores parlamentares brasileiros (senão o maior deles), Rui Barbosa, já vaticinava a pobreza moral que imperaria nos meios políticos nacionais e, porque não dizer, em toda a sociedade: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Sabe o quanto é importante não dar muita explicação / não há nada de extraordinário na situação...” Alguém já viu um político que seja, responder de forma clara e precisa, sem rodeio algum, à qualquer acusação de má versação de recursos ou desvio de dinheiro público? Isso quando se predispõem à responder... E a sociedade brasileira, já desgastada por demais com o (baixíssimo) nível de nossos parlamentares, nem se assusta mais com os novos modelos e formatos das maracutaias de “seus representantes”.
“...o segredo do sucesso é a moderação / ter um dia sim e ter um dia não”... É aí onde a letra da música se distancia novamente da ação dos políticos nacionais. Para eles, todo dia é dia de feira, de festa, de fazer uma vaquinha com o dinheiro dos outros e de autofinanciar o próprio pé de meia. Se roubassem, digamos, nas segundas e sextas-feiras, já seria um avanço na corrupção brasileira: é que nestes dias não há expediente em Brasília...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

não vê

nada tenho de valor
nem esse grito não tem valia
e choro sem ter o que pedir?

agora sei o quem sou
observo esse pote vazio
sem vontades ou caprichos

naveguei por tantos mares
estou dura como pedra
de tão leve e oca
a onda me leva
e me traz
como todas
as outras conchas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

dois poemas do LEOA OU GAZELA, TODO DIA É DIA DELA

Meu D.Quixote

Tinha dragões
capturados
que repousavam,
pintados,
em seu braço.

Mas a paixão
perdeu o viço

e depois disso,
vejo desenhos de moinhos
tatuados.



Homem Árvore

Corpulento e magnífico
conífero
derrubado sobre mim,
pobre gramínea!

Com voz de carvalho
- grave e inclemente -
ele ordena:

- Prova-me, erva daninha,
que te orvalho!

Estranho sabor
tem seu falo:
sequóia milenar.

Gosto araucário de terra,
raiz tuberosa.

Não sei se o quero:

Sou frágil
como uma rosa!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

que fazer com meu eu virtual depois da minha morte

não me deletem nem me removam
nem excluam ou esqueçam
se estou vivo em bites
sou um ateu que crê na imortalidade dos dados
e no caos
espero alcançar o paraíso
dos desmortos virtuais

minha lápide no orkut
será uma incógnita
de toda minha demência