segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Papo sério de sujeito homem


Sempre me incomodei com filmes que o narrador relembra o passado comentando neste dia aprendi alguma coisa. Pô, eu nunca aprendi nada. Quer dizer, não entendia na hora que acontecia, só depois de muita pestana é que atinava para as verdadeiras motivações e conseqüências. Se aprendesse no momento, como nos programas, teria seguido caminhos absolutamente diferentes, minha percepção teria sido mais madura. O alento nisso é que nunca me arrependi do que fiz, só de como.

A introdução tá parecendo um desses seriados, mas não é.

Um amigo me contava suas safadezas:

- tu sabes como são essas coisas. Tu és sujeito homem.

Parei ali, nem registrei as informações das peripécias sexuais.

- como é um sujeito homem.

- tu sabes. - ele riu. - é macho de raça, que encaçapa toda boceta que dá mole, mas segura a onda na perversidade.

Gostei de saber que minhas fraquezas eram comuns. Achava que tivesse algo de errado comigo por ainda pensar com a cabeça do pau. Mas isso era ser sujeito homem, um cabra honrado.

Ainda feliz com minha condição de sujeito homem, reuni-me com a namorada a um grupo de amigos em viagem ao litoral para o réveillon. Casa à beira mar, coqueiros no jardim, pessoas compartilhando a mesma tranqüilidade, ótima oportunidade para dar merda. Big brother da vida real.

Uma lambisgóia se engraçou comigo. Desprezou completamente a presença da minha garota e caiu matando numa sedução à la operário da construção civil: “hum, dá para perceber as veias do seu bilau com essa sunga”, Eu escapulia como dava, minha educação nunca poderia ser confundida com retorno.

O outro homem da casa, também com namorada, me chamou:

- mermão, a madame mim tá pulando no teu pescoço.

- impressão tua. xapralá.

- pô, maior pilantragem. tua mina vai pirar. vou pedir pra minha mulher falar pra madame se tocar.

No outro dia, tudo diferente. A sedutora mal me olhava nos olhos. Parou de oferecer os seios e nem mais tentou ver meu pinto. Mansinha. A praia até ficou mais bonita.

- tua mulher falou com a madame mim, não é? – Perguntei - tudo está diferente.

- não foi ela. - Ele estava emburrado, mas como falei, eu não percebia esses detalhes na época, só hoje, pensando nisso. - fui eu. tá tudo bem.

Acreditei. Ficou tudo por isso. Era o que eu pensava, pois nada tava bem. A conversa com a lambisgóia foi em tom de acusação, você tá agindo como uma piranha, insinuou que ela ameaçava a estadia de todos na casa por sua conduta vulgar. Hora alguma pediu ajuda à namorada. Do jeito que aconteceu, até acharia que houve ciúme dele, mas isso é só especulação e, como disse, eu nunca percebo nada na hora.

Voltamos para Brasília na maior paz, eu e minha namorada. Os outros passavam por conflitos velados: o namorado brigando com a madame mim, que descontava na amiga, influenciando-a negativamente em relação ao namorado. A moça fingia que não via tensão alguma.

Já na cidade, a canoa virou. A namorada chamou o cachorrão na xinxa e perguntou o por quê dele se importar tanto com a amiga. Ele disse que era para me proteger, pois, no fundo, eu havia gostado da sedução e estava dando corda pra safada. O papo furado colou, a moça sempre foi meio ingênua, ela concordou com aquilo para simplesmente esquecer a desconfiança de algo entre o namorado e a amiga e eu é que fiquei como o canalha da história, mesmo sem saber.

Até um dia num futebol, em que perguntei sobre o sumiço da sua namorada.

- ela tá meio puta contigo. por conta daquela treta com a madame mim na casa da praia.

- como é?

- pô, tu gostou da peituda dando em cima, até era todo educado. foi isso que expliquei pra minha mina: que briguei com a madame mim para te proteger.

- mas... eu não fiz nada. foi você que me alertou sobre aquela louca.

- tu gostou da peituda. Foi isso que expliquei. - e saiu trotando atrás da bola. Lembro bem da cena pois me senti apunhalado. Só então eu percebia que ele era sujeito do tipo contrário, daquele que fode os amigos para papar alguma mulher. Como é que ele tinha coragem de me escrotizar para sair bem na fita? Nana-na-não. Não sou um cara de muitos bens, um dos poucos que me importa é a limpeza do meu nome.

Dai, fiz a besteira que não faria se já tivesse aprendido algo.

Um tempo atrás fiquei enraivecido com um broder. Escrevi um email direto explicando meu incômodo. Como resposta recebi uma lista de impropérios seguida por outra com meus defeitos e fracassos. Fiquei chateadão, não conhecia a reação dos falsos. O cara já me tinha um monte de raiva, mas se fingia de próximo meio que de inveja. Na primeira ingrizia, despejou fel e amargura.

Nesta nova situação, tentei resolver escrevendo uma crônica em que dizia não me importar em perder amigos. Esperteza sem tamanho. Obviamente o namorado nunca mais falou comigo, todo emburradinho. Mais uma vez fui precipitado e confuso, mas o resultado foi o melhor que poderia ter acontecido, mesmo se eu não tivesse perdido o broder. De que me adianta amigo traíra?

Sempre escolhi minhas amizades pelo prazer em estar com elas, nunca por interesse, status ou qualquer outro motivo. Se aquele amigo, e também o outro, não queriam mais partilhar minha companhia, bem, no fundo, acho que a vantagem foi minha, pois não sofreria novamente alguma traição ou reação nervosa.

Nunca aprendi as coisas, na verdade. Se aprendesse, não escreveria esta história, relembrando estes fatos, mas entendo a literatura como explanação dos medos e angústias, como percepção das visões de uma época, como alicerce filosófico para novos pensamentos e idéias, tenho que escrevê-la no mínimo para resolver a questão na minha visão e superar os acontecimentos.

O sujeito homem não precisa ser um bom sujeito, mas eu preciso de caras bons como amigos.


2 comentários:

Deveras disse...

Cara, sujeito homem tem de vários modelos, igual marca de cerveja... (Acho melhor mudar a simbologia)... Melhor, igual marca de cachaça: tem muita diferença, apesar de serem feitos da mesma coisa, sacou?

É mais ou menos isso... Ou então é tudo diferente.

Legal o texto. A intro é duca.

ficanapaz

Giovani Iemini disse...

certíssimo, deveras, mas como todas as marcas de cerveja ainda são apenas cervejas, acho que o conceito de sujeito homem funciona.

valeu a leitura.