terça-feira, 17 de março de 2009

De uma ex planta artificial


Foto: Felipe Ferreira


era uma planta
artificial
que ficava num canto
da sala
que não pegava sol.

via o mundo por uma
pequena fresta
na janela.

o seu dia era a noite,
interrompido
pelo desligar-se
das lâmpadas na madrugada.

as folhas tinham
um ar longínquo
e disperso.

sua raíz sonhava.

não chorava.
nunca chorou.

nunca fora engolida
pelo orvalho,
e nunca servira de ninho
para pássaros.

só os ouvira cantar
o canto de desespero
engaiolado.

se pudesse cantar,
unir-se-ia a eles
em uníssono cântico.

diante de seus olhos
plásticos suplicantes,
coloquei-a num jardim

e vi que por tanta
vontade de crescer

cresceu.

chorou.

levantei a vista para ver
as suas folhas e frutos
úmidos de orvalho,

e um passarinho cagou na minha testa.

não o vi.

apenas ouvi seu canto libertário
que ecoava pelo o jardim.

a árvore, agora permeada
pelas formigas
e pelo sol,

sorria.




André Espínola

2 comentários:

Catiaho Reflexod'Alma disse...

Sintinia perfeita, texto delicioso de ler.
Me levou a imaginar a cena.
Bjins entre sonhos e delírios

""apenas ouvi seu canto libertário
que ecoava pelo o jardim.
a árvore, agora permeada
pelas formigas
e pelo sol,
sorria.""

André Espínola

Jessiely Soares disse...

Esse meu André. Quão notável é o menino-escritor que eu amo.

Belo texto, sou fã desse.

:*