sábado, 4 de outubro de 2008

Das eras, das feras e dos monstros interiores


Entre milênios espremidos em minutos
eras que se passaram em horas
no espaço imutável de um segundo
guardei aquele olhar dentro do meu
aprisionei-o e o trouxe comigo;
às vezes minha cruz mais pesada
em outras meu único abrigo
das acusações que me faço
sem me defender;
não peço nunca clemência
nem estou disposto a oferecer.
Último voluntário da pátria
sigo esbarrando nos ombros
dos que não me vêem
que não sabem onde guardo
meus tesouros e escombros
Dou de beber aos filhotes da minha loucura
crias gordas e sadias
rainhas, cadelas, vadias
percussoras da minha crucificação diária
último pária
seguindo sozinho em busca do horizonte
bebo o fel da fonte
do amargo lembrar
do rememorar
auroras de perdidas cores
de vários festins
e difusos amores
Aos séculos e seus sagrados segredos
respondo que ainda persisto
e apesar das derrotas e dos meus medos
não acenderei a candeia que eliminará a escuridão
no meio das sombras danço
mas o coração não acalento:
eu o picotei em pequenos pedaços
e o cozinho em fogo lento

Um comentário:

Angela Gomes disse...

Gostei muito, muito. Lindo. Mas, coração cozido, resistindo aos séculos é muito triste.