terça-feira, 3 de julho de 2007

Incógnita

Óculos,
nariz,
bigode.

Por cima um saco de pão.

Corada sob a maquiagem,

incógnita.

Multidão.


Paulo Eduardo de Freitas Maciel de Souza y Gonçalves

12 comentários:

Anônimo disse...

Grande Paulo. Predisa ser lido com calma, mas sempre surpreende.

Maria Júlia Pontes disse...

Bravíssimo, incógnita!!
bj
mj

Escrivinhações do Feuser disse...

Paulo, lembrou-me Leminski.
Bela imagem do cotiano apressado.

MPadilha disse...

Muito bom Paulo. A sua cara.

Betomenezes disse...

gostei dessa!

Fernando Maia Jr. disse...

Mt bacana, Paulo! A Me disse sua cara, hehehe; se esse poemeto é sua cara, então realmente ainda precisamos conhecê-la, afastar a multidão, localizá-lo, limpar a maquiagem, rasgar o saco de pão e arrancar os disfarces baratos de 1,99 da cara do poeta.

Eu gostei destas letras. Usa os clichês do disfarce, os quais de imediato o leitor identifica. Depois, sofistica com a arte da maquiagem. A multidão não é bem um elemento de disfarce, mas devido à escala multidão/personagem, a personagem some, é diminiuída, o que auxilia na incognoscibilidade dela; e é também um símbolo bem estabelecido.

Eu gostei do poema também pelos dois momentos que ele traz: um é pessoal, um close (até a cena do corada); o outro é geral, amplo (a multidão). Isso dá uma dinâmica ao poema e tb não o restringe a um momento só.

Essa é a outra coisa legal: que a personagem em si pode ser incógnita, mas não alguns de seus sentimentos, ora sugeridos pela vontade de ocultar-se, ora revelados pela palavra corada.

O fato de a personagem estar na multidão pode ser interpretado de duas formas. Na voz do poeta, pode ser que ele esteja fazendo significar pouco os sentimentos da personagem ou sua vontade. Explico: a personagem se maquia para esconder o que expressa; reforça esse esconder com disfarces; mas na multidão, quanto importa ela? Ela é só mais um ponto, sua vergonha e seus receios estão disfarçados só porque ela lhes dá importância; no dia-a-dia, na sociedade, a multidão se encarrega de fazer desconhecido o que ela sente. Por outro lado, pode ser que a personagem, ciente disso, tenha por vontade própria se mesclado à multidão, e nela querido dissolver-se, a fim de tornar-se incógnita por completo.

Comentado! :-)

Fernando Maia Jr. disse...

PS: ah, não seria mais legal se em vez de "por cima" escrevesse "por baixo", na parte do saco de pão? Mais caricaturalmente, o saco de pão está sempre por baixo do kit disfarce de 1,99.

PPS: esqueci de dizer que o conjunto todo do disfarce, sendo ridículos, são um pouco malvados com os sentimentos da personagem. Ou seria mais ridícula a sociedade que a oprime e a obriga a esconder sua natureza?

Anderson H. disse...

Muito inteligente. Parabéns.

J. disse...

\gostei muito!

Filipe M. Vasconcelos disse...

Estou adorando essa história de Blog, há muitas pessoas que escrevem bem e que ainda não estão nos livros de Literatura.. Belo poema..
Abraços

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Fernando, dentro dessas suas considerações, ainda cabem, conforme o que bararizei ao tretear, pelo menos mais duas idéias relevantes.

Anônimo disse...

Visão, olfato, paladar, tato.
Audição solta em meio à multidão.
Que sejam limpos os bigodes dentro da própria incógnita – tapa que estremece na mente dos que não enxergam, não cheiram nem fedem, escondem e não provam para não sentirem ou ouvirem o peso da 'realidade' que anseia bem mais que o pão.
Showwwwwwww!!!